Romance ‘Janeiro’ tece uma rede de violências e silenciamentos ao corpo e identidade de uma adolescente no pampa argentino | Fernando Andrade

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Fernando Andrade | escritor e jornalista

 Haveria uma transformação de cultura numa região onde a terra é pesada e pensada através de uma moenda de hábitos secularizados? Onde a ação humana é pesada e pensada da mesma maneira sem reparar no progresso da cultura e das formas de maturar informações? O fazer de uma fazenda parece destoar de um sentido que faz e passa por um funil, movimentos, transições, passagens, deslocamentos, o ato físico de andar. Nesta suspensão do tempo é que vai se contar a história de Nefer, adolescente que é estuprada por um empregado da estância, e engravidará sem poder aceitar sua gravidez nominalmente e socialmente. Sara Gallardo a autora deste romance, Janeiro, ( editora Moinhos) nos coloca nesta paisagem nos mundos da Argentina com todo o machismo traduzido nas omissões silenciosas da família, na negação da palavra feminina, no patriarcalismo que agrega valor à terra, mas ao feminino, não, a força da enxada, a brutalidade do forcado de uma campina, o suor masculino sempre traz um pouco do pão que vai à mesa. Sara tece toda a rede de silenciamentos, onde a personagem tenta transitar atônita, por um pouco de identificação por sua gravidez. O silêncio do cotidiano maçerante de um fogão à lenha, uma espora no cavalo que tenta desbravar o pampa argentino.

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