Fernando Andrade | escritor e crítico de literatura
O tempo de uma lenha queimando é o mesmo tempo de uma panela de barro no fogão à lenha, cozinhando um cordeiro? A matéria se preocupa com a finalidade e seu espírito em torno do pó (lenha) ou se não, do corpo macio de um cordeiro?
Palavras não amaciam quanto à sua têmpera. É versar a matéria em sua dialética de contrários. O tempo é a relação entre as formas que se quer pronta? Um poema nunca fica pronto e vivido. Destas imagens latentes sobre o chão, a raiz que nutre o chão, a seiva que sobe aos troncos; as flores.
A poeta Cecília Rogers, neste seu novo livro, ‘Contas do Rosário’, editora Penalux, nos dá esta dimensão entre elos da natureza, que pode também poematizar um vazio ou uma leve brisa da manhã. A poeta retira do amor materno, uma alquimia em busca da polinização da palavra pelo pendor do afeto. Não são sacralização do efeito de purificar a palavra num ato religioso, apenas, sua reza – poética fala das relações que não beiram causas e nem consequências, porque a palavra não precisa vir ou ir numa relação de tempo e espaço, puramente causal.
Embora haja na poética da autora uma relação temporal entre os fatos e sentimentos que envolvem a mãe física, e também uma mãe arquetípica, protetora, maternal. Cecília tece uma bela epifania de momentos intensos sobre o singular contato entre pele e afeto, entre memória e solidão. Os dedos-letras contam as contas dos rosários não em busca de alguma salvação, mas de uma relação entre dormir e sonhar, de comer e pacificar o corpo apaziguado no nome do indizível.
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