Fernando Andrade | escritor e crítico de literatura
As palavras nas mãos erradas viram uma antibomba. Ela não explode, nunca, porque explodir seria acabar com tudo, o fascismo, a mentira, o terror. A bomba sempre espera seus (D)efeitos de pensamentos, ruídos, paranoias. Sobre o estado que vigia este corpo. Ela dispara frequências de ansiedade – perdas, liberdades. Mas como pensar esta tradição fascista se não voltarmos para uma outra questão cultural de família. A família do adultério, da solidão entre pais e filhos. Cada célula só entre seus finais – conexão e comunicação.
Mas para desarmar esta antibomba será preciso engendrar uma certa linguagem da ficção dentro de si? Para isso não existiriam escritores tão conservadores que apostam na banalidade do mal em sua veia mais dilacerante? Vamos tentar achar que está antibomba se desarma com o apreço da linguagem mais desmesurada, subversiva, e anárquica.
Um certo surto de deixar tudo fora do lugar, as relações máquinas do trabalho surtado, mas para isso, será que o autor não teria que se descortinar, sair do de um eixo normativo do excesso? Vejo no novo romance do escritor Leonardo Almeida filho, chamado de forma muito pertinente de Os possessos, editora patuá, esta distensão do escritor em sair da margem de segurança em uma pólis corroída pela ordem que não gera bem estar.
Tudo que sai do eixo – sua gravidade, pode cair, esta potência entre queda e redenção parece ser uns dos temas do trabalho do autor. Leo dinamiza sua narrativa com uma tensão onde as relações parecem só mediadas por algum grau de interesse ou conveniência. São religiões que adoram dizimar o povo.
A família se desintegra perante uma ordem patriarcal que já está falida. Leo desnormatiza seu romance enquanto formação de um eu íntimo, pois o romance gera uma polifonia de gêneros da carta autobiográfica à crônica de vida. Traços do autor em busca de uma visão mais plural da linguagem que tenta a todo custo abarcar o real insólito.
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