Fernando Andrade | escritor e crítico literário
Falta amor neste prato. Tenho um garfo e faca mas ao amor não me cabe esfacela-lo, em pedaços menores. O menor sumo do amor pode sumir em seu efeito? Mas ao parente familiar do amor, se me cabe no divã, a falta, dela posso fazer um quitute de palavras que saem sem receitas, pois dizer, sobre falta é não mais senti-la por entre os dedos, sobre a pele.
A falta é o espaço gourmet da cozinha onde leve e solta se faz ausências onde se pontua o veio da poesia. Esta noção de que falta espaço onde se concentram as coisas ou onde guardá-las em ante uso é o grande chamado poético do livro do poeta André Oviedo, pela editora Reformatório, Estar perto de perceber alguma coisa.
Há uma interessante relação entre entendimento de conclusão de algo fechado e finito e os sentidos que cabem ao significado expressá-lo. André como um mestre zen, torna os objetos poéticos anteriores a filosofia da coisa-ideia. Não é o apagamento da coisa em si, mas sua completa ausência sentida pela falta de tentar definir todo entorno. Os seres, os objetos retornam à uma essencialidade quase fictícia e ficcional da vida. Aqui vejo esta materialidade do poeta como uma webcam que filma os deslizes dos sentidos aflorados pela estética pictórica de suas palavras. E o deserto onde se faz a miragem num esforço de fugidia concentração do olhar-desejo pelo objeto que causa um temor? Ou uma fuga?
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