Fernando Andrade | escritor e jornalista
Qual relação em um texto entre um aperto, um abraço e um beijo? Estou diante dele e o jeito que lhe leio revela um aperto com olhos e mãos.Ele seria um convite à aproximação da leitura? Adentrar as linhas do começo do texto. Já o abraço requer certa familiaridade com os espaços, vírgulas, a dita respiração. Entraram na zona do pensamento, sobre os sentidos da leitura. O abraço é então uma interpretação do texto? Mas cá estamos na crônica, vemos e lemos não um certo traço do reino intelectual, mas uma relação de afetividade com o lido, o absorvido. Como um caminho-poeta, trilhando linhas por naturezas familiares de um certo cotidiano muito nosso.
Athos Ronaldo é um desses, pois escreve, como observador dos afetos pela vida rotineira e passageira. Escreve para os outros neste seu ‘ O Zapzap das flores’, editora Penalux, com certa eternidade nas superfícies das folhas rascunhadas. O sussurro da palavra soprada num sorriso cúmplice entre leitor e experiência. Mas e o beijo? Não seria o ato da intimidade da sua escrita? Na frase sardônica, no dito espirituoso, na ironia-flecha com que liga entre-meios. O autor para cada crônica absorve o tema, do futebol à política, passando pelo momento da pandemia, com fraseado de casa, íntimo. No seu estilo de prosa do humor ao poético em camadas tão sutis de entrelinhas atléticas, o poeta nos empresta a linguagem corporal dos afetos trabalhados no cotidiano mais familiar que o seu leitor possa imaginar.
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