Fernando Andrade | escritor e crítico de literatura
Um pai dentro de um altar põe sua família para rezar a Deus todo poderoso. Depois do pão, do vinho, do corpo de Cristo, ele roga à eles obediência. Não impõe força, mas sim, respeito através de palavras santas. A religião para o pai é o controle do corpo, das pulsões nefastas que a transgressão provoca.
Quando o governo tirano tomou conta do país todos começaram a ajoelhar e pedir… e foi assim que os escribas começaram a crítica nos jornais, afetando este estado não laico das coisas. Até que apareceu um livro de um autor estoico, que botou estas liturgias puras para fogo e brasa.
Tratava-se de Nélio Silzantov que havia editado pela brava editora Penalux, um livro transgressor, contos que pareciam novela, mas que na tramoia e trama eram estruturas não binárias cujo teor de insubordinação começava através do Rio de Janeiro e de outras cidades a se alastrar na leitura e na consciência do povo.
Contos que beiravam os baixos das bestas, com um linguagem viral, que mostrava não um pessimismo niilista, mas certo cavalo de troia feitos de ações defensivas na lógica do contragolpe, do boxe, do jab: o lado b da sociedade de consumo e escapista, deixando os marginalizados totalmente à deriva.
A cultura também pode ser subversiva, diz seu autor quando cerze seus personagens ruídos pelo tecido social, pela medicalização dos desníveis de desigualdade de classes, o bom letrismo dos nomes próprios das estirpes dos clãs políticos de nosso mundo universal.
Este ‘BR 2466 ou a pátria que os pariu’ me lembrou aquelas histórias em quadrinhos sacanas onde o jovem leva para o banheiro para fazer não sei o quê? E que o princípio da imagem com a palavra é sempre a saturação da pureza de uma imaculada santidade enquanto forma de corromper a liberdade.
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