Livro de poemas em prosa ‘Confissão’, aprofunda a linguagem da poesia para falar de solidão e desamparo | Fernando Andrade

Fernando Andrade – escritor e crítico de literatura

O jeito de deitar para dormir num lugar apertado, numa casa tão pequena, parece deixar esta narradora mais íntima das palavras que pular aqui, acolá, atiram-se ao fogo para cozinhá-las sem fogo brando. Há um animal que pula dentro de nós tentando agarrar algumas ideias, solidão, desamparo. E a poesia talvez seja a carne mais crua e doce ao mesmo tempo para matar o tédio, a fome de uma liberdade atroz, por que não seja tão conquistada. Quando leio o livro de Cláudia Lucas Chéu, Confissão, Reformatório, entendo um pouco a métrica, os versos tão narrativos envoltos em dor ou beleza de uma vida em pendências.
A confissão da autora como o próprio nome do livro refere-se, não é todo discurso que se possa fazer sobre uma certa família desamparada. Trata-se de um fluxo de pensamento poético onde a narradora vivencia um rotina de um mãe doente dos nervos, um pai sumido às vezes, um colégio de usar a liberdade talvez,como um disco de dois lados que tocam a mesma canção. Claudia usa toda expressividade das palavras para tocar o nervo das coisas inauditas. Seu texto não resvala para nenhuma tristeza pós-poética, ele é a própria linguagem do corpo tateando o ambiente em busca de alguma sanidade.

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