FERNANDO ANDRADE-) Seu romance Decidida bota dois personagens meio arquetípicos de uma sociedade de massa. O jornalista e a prostituta. Por que optou por estes personagens em questão?
MARCO ANTONIO MARTIRE-) Eu quis mexer com um personagem icônico e dar a minha versão do que seria uma prostituta, neste caso no tempo imediatamente anterior à pandemia, quando essa norteou as relações e relegou a profissão de prostituta ao limbo. Nesse tempo imediatamente anterior o que acontece? Como Tania se relaciona com os personagens que frequentam seu mundo? O estudante de jornalismo surgiu como consequência do exercício, Álvaro está sedento e a prostituta preenche um estado emocional que carece de afeto. É a razão do romance, Álvaro se aproxima de Tania, inicialmente para aplacar sua sede de sexo. Depois se apaixona. Ao contrário dela, que se apaixona desde o início, e daí questiona: o que faço com esse cara? Será uma decepção que fará com que Tania abandone Álvaro, evento chave para que ela se envolva em histórias mais perigosas.
FERNANDO ANDRADE-) Quais foram as dificuldades de levantar um romance, principalmente na questão da fabulação e da escrita?
MARCO ANTONIO MARTIRE-) dificuldade maior foi o dia a dia. Levar a história pelos dias, avançando na narrativa conforme a necessidade. A fabulação é ligada à escrita pela necessidade, eu me levanto todos os dias e a história precisa ser contada, é um elo que o escritor não pode negar, caso contrário a história não sai. No caso deste romance, assim como em qualquer narrativa longa foi preciso estabelecer uma meta. Que pra mim, foi de uma página por dia. Todos os dias, buscava escrever uma página, não importa se boa ou ruim. Depois eu passava a revisão. No dia seguinte, antes de criar, eu passava a revisão no trecho criado no dia anterior. Foi assim que fui avançando rápido na criação do texto. A tessitura de DECIDIDA levou cerca de 4 meses.
FERNANDO ANDRADE-) Você é um cronista experiente. O que o estilo lhe deu para escrever uma narrativa longa, ou se ao contrário dificultou na parte do arcabouço ficcional?
MARCO ANTONIO MARTIRE-) Acredito que a crônica ajudou com a disciplina de que precisei para prosseguir com a narrativa. A crônica é um exercício cotidiano, a que o autor se propõe quando se permite escrever com certa regularidade. Naquele dia certo, a crônica necessita sair, tem que ser publicada. Nesse ponto, a narrativa longa difere, ela será publicada muito depois e isso pode atrapalhar um pouco, se o autor deixar a expectativa crescer muito, gerando uma ansiedade que, no fim, pode ser prejudicial. A narrativa longa não vai pra rede, ou para o jornal, ela vira livro, e isso implica em uma espera.
FERNANDO ANDRADE-) Como pensa seus personagens? Faz algum tipo de laboratório, experiencial?
MARCO ANTONIO MARTIRE-) Não faço laboratório. Minhas histórias são fruto de algum tipo de vivência que tive durante meus dias como cidadão comum, ordinário desta metrópole que é o Rio de Janeiro. Em um certo sentido, este romance é resultado de um grande laboratório meu que é a cidade do Rio de Janeiro. Tania é um personagem arquetípico desta cidade, da orla dela, onde vive, e onde conhece Álvaro, jovem estudante de jornalismo. Os dois vão viver uma história de amor, quer laboratório maior do que esse? O amor é um grande laboratório.
FERNANDO ANDRADE-) O que espera do seu livro publicado? Quais suas expectativas para pós-publicação?
MARCO ANTONIO MARTIRE-) O livro vai sair por uma editora independente. Sei que isso limita o alcance, é claro que ele não vai alcançar a tiragem de uma grande editora, que entra nas livrarias já dizendo onde seus livros vão ficar à venda para o leitor. Mas acredito muito na história da Tania e do Álvaro, gostaria que ela alcançasse o maior público possível.
DECIDIDA será lançado no dia 08 de outubro, durante a Primavera dos Livros, evento que acontecerá nos jardins do Museu do Catete, no Rio de Janeiro.
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