Romance ‘Os lares de Laura’ usa todo o repertório musical para falar da alteridade do amor no feminino | Fernando Andrade

Viviane Santiago - Romance 'Os lares de Laura' usa todo o repertório musical para falar da alteridade do amor no feminino | Fernando Andrade

 
 
 
 
 

Fernando Andrade | escritor e jornalista

 

A voz de uma intérprete conta dentro de uma melodia um pequeno universo do conto. Um enredo que pode durar 3 ou 4 minutos  apenas ao narrar um ser ou um objeto. A voz da vida a esta teia que se entranha num sentido rítmico e sonoro, mas quando lemos uma história mais longa como um romance, a voz esta mesma melódica não passa ao segundo plano, por apenas obedecer ao outro ofício da escrita agora sem partituras. Ela encarna também toda uma musicalidade  com as palavras que um autor com seu meio criativo do pensamento possa afinar tanto os sons com certa precisão com o movimento do escorrer das letras, das palavras, frases, pela página em branco. A escrita da escritora Viviane santiago nos envolve e encanta, pela plenitude do canto, das somas da articulação vocal de seus signos sonoros. 
Cadência, ritmo, respiração ou pausas criam ao leitor um maravilhamento de leitura quando nós acompanhamos Laura, personagem chave que não busca nenhum tipo de redenção, ao repertório machista de seus homens que participam de sua  história. Ela busca tantos sons que o afeto pode sugerir com carinho, amor, atenção. A vida não é uma viola, mas também viola certas formações humanas que temos por princípio como Laura. A dignidade de ter um corpo livre e são da violência masculina. 
As horas perdidas em fuga do marido violento, o ciúme sempre desculpa para reações perversas. Viviane traça em novo romance Os lares de Laura, edições Telucazu, este caminho de Laura sempre em constante deslocamento físico e espiritual. Viaja com seu filho, conhece outros homens,  mas a excitação permanece sempre com a espreita de um tambor.
Manuel parece ser de outro molde humano promete viagem à Portugal, tende a ser mais atencioso embora inseguro. Oswaldo o marido violento vai atrás da ex esposa. Quer reatar mesmo tendo ataques de fúria com ela.
Com uma linguagem precisa e minuciosa nos meandros dos sentimentos da protagonista, a autora só escreve numa superfície onde os eventos acontecem, também, num subtexto poderoso, onde as palavras não alcançam, porque, ali existem as lacunas onde significados deslizam por entre fendas do texto. 
A viagem a Portugal parece ser uma ode à liberdade. Encontrar amigos, pessoas atenciosas, e um outro homem a quem ela se interessa um pouco. Mas a vida nem sempre é só causalidades, e efeitos. Traz consigo surpresas e fatalidades que muitas vezes travam uma nova esperança de continuidade de viver bem com os seus. 
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