Fernando Andrade | escritor e jornalista
A paisagem não é um quadro pintado. Tem algo de movimento, como uma brisa soprando pelos cantos.
A estação não deprime o corpo, são suas tensões, o quadro orgânico da volta do corpo.
O movimento interno da alma também obedece aos brios do vento, a calma da brisa, a depressão parada do ar. Aragem é o último livro de poemas do poeta Edmilson Borret, pela editora Penalux, dividido em três movimentos ou suítes, que organicamente vivenciam um estado de ânimo, do personagem escondido sob a vestes da poética. A primeira parte chamada ventania, nos enleva ao braço da memória, dos fatos já nascidos, e crescidos, para um futuro. Vivências com jogos lúdicos do corpo, com o eu centrado na dialética da razão\emoção. A segunda parte ar parado, nos dimensiona no caos, o desânimo, a negação volitiva do desejo em morte. A linguagem se torna áspera, dura, e até chula, vendo os meandros da interdição do dito. A violência declama sua estética, para despudor da linguagem. Na última suite, aragem, a lei imperiosa do desejo freia o parasitismo do ser, esgana a fatalidade do destino, e põe a moira para tecer fios e jornadas para uma metáfora do sopro que é a brisa, que acalma qualquer agitação, na beira do espaço da casa. São a ode à invenção do sossego ou falso sossego, cuja índole é a liberdade de agitar-se no perigo.
Organicamente feitos em três, temos aqui o ego, o superego, e o inconsciente pairando sobre a criação da mente, corpo e fábrica dos desejos em pulsão livre.
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