Romance Tio Zulmiro não se chamava assim, nos mostra em época pandêmica, o lado perverso da malandragem por grana | Fernando Andrade

Jacyr Pasternak - Romance Tio Zulmiro não se chamava assim, nos mostra em época pandêmica, o lado perverso da malandragem por grana | Fernando Andrade

 
 
 
 
 
 

Fernando Andrade | escritor e jornalista

A sátira pode ser prima-irmã do jornalismo. O jornalismo reporta, factualiza.
A satira mostra o humor, o deboche em cima dos fatos. Só a literatura consegue se manter presa ao cotidiano mas reinventá-lo com a crítica mordaz, com o humor irônico. Tio Zulmiro não se chamava assim, romance do médico e escritor Jacyr Pasternak, editora Reformatório, faz um panorama existencial, sobre os dois anos da covid, e como a cultura do jeitinho brasileiro se aprimorou, com as brechas e fendas da pandemia. Um grupo de amigos cria uma firma à princípio para fazer testes de covid, sem a menor propriedade e vocação.
Dividem a turma em partes, uns coletam, para fazer um “exame”, outros fazem uma certa divulgação pelo telefone.
A coisa começa a dar certo, e Jacyr nos mostra que as leis e a oficialidade do tratamento, devendo ser feita pelos hospitais e postos de saúde, na hora do aperto e do medo vão para o brejo.
Há um clima de camaradagem entre os irmãos quando o assunto é burlar as normas sociais e a lei. O escritor mostra toda a naturalidade de trocas de conversas, cuja a interdição da lei é mostrada até com humor entre seus camaradas.
São pessoas que não possuem certa autonomia financeira é resvalam para o calote, o trote aproveitando as lacunas do serviço hospitalar, a moral não tem formação humanística, mas sim, da malandragem, do salve-se quem puder. Depois da coleta para os testes da covid, vendo que alguns pegaram a doença, partem para a crendice de criar pulseiras que protegem “os clientes” de pegarem a doença.
A falta de informação científica aqui muito em voga no país, apela para mistura da crença, para a fé em situações milagrosas. O autor traça um painel de que entre mortos e feridos todos podem perder uma relação de amizade, brotada da conveniência.

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