Fernando Andrade entrevista o escritor André Balaio

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Fernando Andrade: Seus contos buscam certo estranhamento do fantástico, mas partindo de aspectos  realistas, prosaicos. De uma hora para outra o insólito entra abruptamente ou até aspectos da loucura. Como foi escrever esses contos.

André Balaio: Acho que isso é uma característica do meu texto. Gosto de falar de pessoas comuns (trabalhadores, estudantes, etc.), que são colocados em situações limite. É nesta hora que o fantástico se manifesta, quando há uma ruptura de uma certa ordem cotidiana.   

Fernando Andrade:  O aspecto da linguagem é fluído e muito musical. Você teve esta preocupação em decupar a linguagem. Comente.

André Balaio: Eu fico muito feliz por você ter percebido isto. Porque a fluidez e o ritmo do texto são características que persigo como autor. Ouso dizer que são as características mais importantes de um texto na minha opinião. Eu me deleito lendo autores como Saul Bellow, Raduan Nassar, Juan Jose Saer e Graciliano Ramos em que nenhuma palavra parece sobrar, tudo foi tão “amaciado” ali, tão bem reescrito, que a leitura se torna um deleite.

Fernando Andrade:  Diversos contos surgem do meio para o final com aspectos do realismo fantástico. Porque resolveu iniciar estes elementos sempre de uma certa localização no texto. Fale disso. 

André Balaio: Procuro colocar os personagens em situações cotidianas, reconhecíveis. No fundo, estou enganando o(a) leitor(a), fazendo com que se sinta num lugar seguro e previsível. Então eu puxo seu tapete, fazendo o personagem encarar uma situação insólita. É como se dissesse a quem me lê: olha, aquela segurança é ilusória, você não tem controle nenhum sobre o que está lendo.

Fernando Andrade: O último conto não funciona tanto como uma paródia do dia da morte do ator, mas funciona como um estudo entre anonimato e fama, como meio da arte entra na mente de uma pessoa. Comente.  

André Balaio: Em nenhum momento tive a intenção de parodiar o dia da morte do ator. Talvez o título cause essa expectativa, o que não chega a ser ruim. Gosto da sua interpretação de que é um estudo sobre anonimato e fama, faz sentido, principalmente no início do conto. Mas também acho que o texto trata de outras temas: o impacto da proximidade da morte num homem de meia-idade e a sensação de ter passado pela vida de forma irrelevante; a dificuldade de se colocar socialmente e de se relacionar com as pessoas, principalmente com as mulheres; e do quanto a masculinidade tóxica faz mal também aos homens.

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