Fernando Andrade entrevista o poeta e escritor Jansen Hinkel

Jansen Hinkel 2 - Fernando Andrade entrevista o poeta e escritor Jansen Hinkel

 
 
 
 
 
 
 

Fernando Andrade-) Há espaços para o leitor refletir as linhas imaginárias que você produz no seu texto. Mas há também uma linha de corte, de montagem, pois seus poemas nunca são fixos e estáticos. Queria que você falasse destes comentários que fiz sobre sua estética.

Jansen Hinkel – A interpretação é um contrato da linguagem, e só existe com o outro. Se nesse contrato não há liberdade de interpretação e reflexão, já nem sei se é possível chamar de poesia, que pra mim é o tipo de texto de maior liberdade possível. É lógico que quem escreve poesia escolhe como cortar ou quebrar os versos, como desenhar o corpo do poema nos espaços da página e como seguir ou não as convenções do gênero (usar rimas, fazer sonetos, dividir em estrofes por exemplo), só que é impossível que todos entendam da mesma forma, se fosse assim não teria graça nenhuma. Mesmo que eu jogue com a montagem de vez em quando, pois também tenho poemas no livro que são mais estáticos e fixos, minha tentativa é sempre demonstrar algo não encerrado num único significado.

Fernando Andrade-) Há uma melodia interna no seu trabalho como se as rimas fosse para dentro de uma relação entre som e sentidos. É muito fácil fantasiar este modo de recepção ao leitor. Fale sobre isso.

Jansen Hinkel – Eu não uso rimas, quando aparecem é não intencional, aí eu decido se vai ficar rimado ou não. Mas eu gosto da música da poesia, então, mesmo sem rima, a música vem de fonemas repetidos, palavras escritas praticamente com as mesmas letras e sílabas mesmo que uma nada tenha a ver com a outra, se uso versos curtos com duas, três ou quatro palavras, o próximo verso em geral acompanha o anterior, se uso frases longas, repito o processo no próximo verso, e assim por diante; tudo isso, mesmo sem rimas, pra mim é ritmo, que faz a leitura de um poema ser lúdica, com certo humor a depender sobre o que é o poema. Eu acho que os outros sons das palavras são mais divertidos que o som da rima; a rima sempre me pareceu algo que obriga a música ao leitor, sem deixar que o leitor descubra a música a sua maneira.

Fernando Andrade-) Os animais não entram tanto como tema, mas como elemento figurativo de uma relação entre a humanidade e os bichos. Como você usou estes animais nos seus poemas. Comente.

Jansen Hinkel – Minha impressão nesse livro é que sim, os animais são o tema dos textos, e não o assunto. Quando utilizo a imagem de um animal, imagino estas figuras poéticas circunscritas no espaço humano, ou seja, já fora da natureza, já filtrada pela visão e interpretação do ser. Penso que o assunto amplo do livro seja o ser humano, no caso os sentimentos humanos (amor, alegria, tristeza, raiva, medo, prazer, enfim… neuroses e desejos, por mais simples que sejam) acionados pelos animais que escolhi como tema para cada poema. O que fiz foi mais ou menos usar os animais para expressar outras coisas, não exatamente descrevê-los ou fazer uma ode ou homenagem a eles.

Fernando Andrade -) Há uma força de contenção ao que dizer, como se você sofresse influência do poema japonês, daquela mancha tão pouca dizendo muito; tanto. Comente.

Jansen Hinkel – Acho que isso vem mais do cinema e da poesia árabe e persa do que da poesia japonesa, mesmo porque conheço muito pouco da poesia do Japão; apesar de você não ser a primeira pessoa que fez a relação do meu trabalho com a inspiração no haicai japonês, talvez até seja um sinal para que eu conheça melhor. Essa contenção, ou supressão, que tenta dizer muito com o mínimo de elementos, se eu for adivinhar é uma influência direta do cinema e da montagem cinematográfica, a câmera precisa escolher o que mostrar e o que não mostrar e dar conta de organizar isso num conjunto de imagens (planos) que no fim entregam um sentido. Sei que a montagem no cinema, lá no início do construtivismo russo, pegou essa ideia do poema japonês e dos orientais, então a percepção que as pessoas têm da poesia que escrevo não foge muito disso, mas se eu afirmar que tenho influência direta dessa arte, seria mentira, o que sinto é que preciso conhecê-la melhor.

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