Fernando Andrade – Como surgiu a ideia de dividir seu livro de poemas em trincas, O que elas sugestiona no livro como tema e forma. Comente
Daiana Pasquim – O título do livro veio logo, surgido desse movimento do “rasgo” que a escrita é pra mim. Por associação, “Trincas” remete à ruptura da alma de palavra no corpo de palavra e, ao mesmo tempo, na percepção de que há sempre um terceiro caminho, uma terceira opção. “É reconfortante saber que existe o meio termo”, inclusive, é um verso que arrebatou alguns leitores. Sabia que o livro teria que ter a ver com três. Daí surgiram “naturais, ancestrais e banais”. Esses três capítulos dão conta de representar minhas produções poéticas e que foram muito bem ilustrados na capa, pelo @lplucas, que é meu parceiro criativo e de vida. As ilustrações abrem cada capítulo, até se completarem as 91 poesias.
Fernando Andrade – Você brinca muito com a língua, de forma até bem formalista, Tua poesia tem um lado lúdico como a questão da palavra, seus sons e ritmos. Explique melhor esta questão.
Daiana Pasquim – Eu aprecio demais a aliteração dentro do próprio verso, à la Cruz e Souza e me inspirei demais em Claro Enigma, de Carlos Drummond de Andrade, até quanto ao formato de alguns poemas. Drummond me arrebatou desde a adolescência, mas creio que as poesias de Trincas são um “me desvelar”. Estou me descobrindo como poeta, me permitindo, após atuar por 20 anos num texto mais formal, que o jornalismo pede ou científico, que Letras e o Mestrado exigem.
Amo fazer sonetos e levei alguns exemplares para Trincas. Após a publicação do livro já criei outros mais, ao que tudo indica, o próximo livro apresentará mais versos rimados e metrificados. Mas gosto do verso livre também, principalmente quando um único vocábulo vem para causar a estranheza no ritmo ou na aliteração antes provocada. Porque a vida é assim.
Fernando Andrade – Para você, como é a relação entre música e poesia, há elementos em comum, entre a palavra cantada e a palavra escrita, Ritmo, prosódia, melodia, são combinatórias. verso x letra, fale mais.
Daiana Pasquim – Parece que adivinhou que amo cantar. De fato, a poesia de estreia de Trincas “Justificativa Natural”, foi musicada por meu marido, @lplucas, para os eventos de lançamento (Dia 29/09 na Biblioteca Pública de Pato Branco e dia 07/11 no evento estadual Tom de Prosa, do Sesi Cultura). A poesia musicada agradou bastante os leitores. Acredito que entre a palavra cantada e a palavra escrita há uma relação umbilical, especialmente na poesia. Tem verso que parece ter nascido pra ser cantado. Bem como muitas vezes escuto uma música, como Charlie Brown e digo: “Chorão foi um poeta”. Dá um aperto no peito ele não poder ter seguido produzindo suas músicas.
Mas nem sempre essa relação é verdadeira, até porque tem aquelas chamadas de “música” hoje que teriam que se esforçar bastante, no meu ponto de vista, para chegar a ser uma música. A artificialidade e a banalidade, lado a lado com a superabundância de informação, vêm deturpando a formação humana. Por sorte, sempre teremos os leitores de poesias. Confio nisso.
Fernando Andrade – O cotidiano atravessa alguns de seus poemas. Como você poetiza a rotina, a vivência da vida cotidiana. Fale mais sobre.
Daiana Pasquim – São as poesias “Banais” as que mais aprecio, de fato. É quando eu me nutro no que há na vida comum e corrente para transpor para essa linguagem clássica e universal, que é a poesia. O jornalismo diário treinou o meu olhar como observadora de tudo e todos. Faço histórias mentais quando vejo alguém parado num ponto de ônibus ou quando percebo que estou gastando papel à toa, aquecendo na escrita que não é pra ser publicada, na paixão adolescente, nas pequenas indecisões diárias, entre outros infinitos momentos do cotidiano que poderiam ser nada aos olhos de quem não poetiza a vida.
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