Fernando Andrade entrevista a poeta Ana Valéria Fink sobre o livro ‘mais de vinte poemas de amor (todos canções desesperadas)

Ana Valéria Fink jpg 2024 - Fernando Andrade entrevista a poeta Ana Valéria Fink sobre o livro 'mais de vinte poemas de amor (todos canções desesperadas)

 
 
 
 

Fernando Andrade – A  palavra da presença de alguém é muito diferente da palavra da ausência, da falta. Você acha? Como você trabalhou essa falta na poética onde há sempre algo a preencher, lacunas, desvãos, buracos? Fale disso.

Ana Valéria Fink: Penso que o amor, ou a palavra amor, pode ser pronunciada havendo ou não a presença. Mas na ausência certamente, a palavra amor virá acrescida da palavra saudade. E a lacuna se preenche com as recordações…

Fernando Andrade – O amor para as palavras não se fecha com a morte de alguém, as palavras parece que completam a falta de alguém. Está muito ligado à afetividade, muito forte e intensa. Me fala desta construção da linguagem trabalhando a morte.

Ana Valéria Fink: Escrever poemas, para mim, é deixar a poesia (que pode estar em tudo) fluir, confesso que nesses momentos não me preocupo com a linguagem. É como se os poemas “viessem” por si. Depois volto às palavras escritas, e as vou burilando, geralmente fazendo uma espécie de enxugamento, de “lipoaspiração”. Nesse sentido, nos poemas deste livro, a morte não foi o foco, mas a causa da perda. Aliás, em nenhum poema a palavra morte aparece, a não ser na epígrafe!

Fernando Andrade – Você se inspirou num livro do Pablo Neruda para escrever este livro? Qual foi e que relações este livro mantém com o poeta chileno?

Ana Valéria Fink: Na verdade, Fernando, não houve inspiração no livro de Neruda, não, até porque o tema do dele é bem outro; o poeta escreveu VINTE POEMAS DE AMOR E UMA CANÇÃO DESESPERADA ainda muito jovem, quando ainda se aventurava pelos meandros das primeiras paixões; e a canção desesperada, no caso dele, acontece quando sofre rejeição. Apenas me inspirei no título do dele para dar título ao meu: MAIS DE VINTE POEMAS DE AMOR (TODOS CANÇÕES DESESPERADAS), já que os poemas de luto têm, sim, amor, mas fatalmente rimando com dor.

Fernando Andrade –  Seus poemas me pareceram bem musicais, muito próximo à canções de amores, tristes, sobre a dor da perda. Você acha que fez este livro quase um álbum musical? Comente.

Ana Valéria Fink:  No meu entendimento, escrever um poema difere de escrever em prosa justamente pelo ritmo, pela fluidez. Penso que os poemas de meu livro anterior (MOSAICO, Marianas Edições, 2018) também têm essa característica, essa certa espontaneidade.

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