Fernando Andrade: – Você fez em seu novo livro uma sátira, incrível, sobre CULTURA brasileira, do modo de pensar do brasileiro. Mas sua forma parece brincar com os gêneros, não tem um cara de romance conservador, mistura reflexão, ensaio, teatro, entre outras. Fale um pouco sobre esta obra.
Carlos Trigueiro: Acho que experiências de ter vivido, estudado e trabalhado em vários estados principalmente no Norte, Nordeste, Sudeste e Centro-oeste proporcionaram oportunidades de observar, naturalmente, ações e reações no dia-a-dia do cidadão brasileiro. Contribuíram também a passagem, vivência e convivência em várias camadas sociais desde menino seminu amazônida, molecote nordestino, adolescente carioca trabalhando ainda menor de idade, soldado raso na prestação do serviço militar obrigatório, universitário bolsista da Fundação Getúlio Vargas, ao leque de oportunidades proporcionadas pela multi-experiência de funcionário concursado do Banco do Brasil em várias regiões do país. Quanto à forma da obra, em termos de gênero ora romance, ora ensaio, ora reflexão, ora teatro, ora anedota, ora quase poesia, ora mini-história, creio ter sido resultado de divagações psicológicas aviltadas durante a pandemia quando constatado que o Brasil foi o segundo país com maior número de vítimas fatais segundo a OMS.
Fernando Andrade – Você diria que seu livro não fica em cima do muro, critica a direita, critica a esquerda, mas acerta o alvo na bandalheira onde a sociedade daqui se coaduna com o jeito da forma atrapalhada de viver. O escritor para ter liberdade precisa se posicionar politicamente? Ou não, não toma partido no duplo sentido rs.
Carlos Trigueiro: Nada de politicagem à esquerda, direita ou em cima do muro. Encarando a literatura como refúgio psicológico e social, TERRA DO PAU-BRASIL seria expansão maturada de ensaio que escrevi sobre o “Jeito” brasileiro publicado, em 2009, na revista ROMANCE NOTES da Universidade de Carolina do Norte nos Estados Unidos. A conclusão do ensaio é longa e devastadora mas aqui espero resumir o principal: “… a sociedade brasileira tende a comportar-se “motu proprio” ignorando os poderes coercitivos do Estado ou corrompendo-os. E não é excessivo admitir um ciclo vicioso nisso tudo pois o fulcro da deformidade está no poder público ausente, incapaz, corrupto, ou omisso na formação do civismo e da cidadania… e que embute um “jeito” economicamente mais predador que construtivo; mais espoliativo que distributivo; administrativamente mais burocrático que empreendedor; politicamente mais inclinado ao conchavo do que ao confronto; judicialmente mais prolixo e moroso que justo; sociologicamente mais anárquico que disciplinado; moralmente mais fraudador que honesto; de costumes mais permissivos que castos; historicamente emasculado de consciência crítica sobre o passado, indiferente aos desafios do presente, e incapaz de projetar o futuro”.
Fernando Andrade – Qual o peso do diabo na narrativa do livro. Mitologicamente ou factualmente como ele espelha uma sociedade daqui, cristã, mas totalmente hipócrita nas ações? fale disso.
Carlos Trigueiro: Acho que o diabo sob diversas formas ou concepções mitológicas ou não, ora como ilusão em oposição à iluminação como no budismo, ora como perversidade em várias culturas religiosas mais antigas principalmente no oriente, ora como escuridão maldosa em oposição à luz superior benfazeja espelha o mal contra o bem. Incorporei a figura do diabo em TERRA DO PAU-BRASIL segundo a cultura cristã visto que o Brasil é o país com maior população católica no mundo. Claro que o diabo aproveita os descaminhos da fé (ou do jeito brasileiro) para enfatizar que o país jamais conseguiu eleger um papa e enfatiza frase utilizada em várias situações históricas ou atuais: “Deus é brasileiro!”
Fernando Andrade – Você fez também um livro extremamente referencial e cheio de citações à história recente e antiga do país. Como trabalhou estas linhas, no seu livro? Comente.
Carlos Trigueiro: Tendo em vista a abrangência conclusiva da inteligente pergunta vou responder que apenas digitei a obra TERRA DO PAU-BRASIL pois, num país em que o possível é impossível e o impossível é possível, quem de fato a escreveu foi o Diabo!
Be the first to comment