O espelho não é bom para o sexo. Imagens não devem ser permitidas durante a prática sexual, porque distrai os praticantes, com alguma imperfeição ali, na parte daquele corpo, assim, não performando tão bem a relação entre parceiros. A história é uma tática sexual. O coelho havia saído da gaiola, saiu correndo e foi indo, indo em frente, direção ao espelho, chamando Alice, vem, larga este homem, vamos imaginar a fantasia que todo espelho provoca, deformações de imagens, virtualidades, lembranças.
Alice estava dormindo ao lado de Jonas que saiu da baleia; um conjunto de imagens que estava em seu sonho.
Olhou e viu que seu coelho havia sumido da gaiola. Saiu da cama e foi procurar já que a porta estava aberta.
Havia sonhando com a história de outra Alice, com viagens através do espelho, onde nada era igual, equivalente, mas tudo ambivalente ao traço surreal, da viagem mais insólita. Procurou o coelho na cozinha e não o encontrou, seu traço de fome, uma cenoura.
Lembrou do sexo com Jonas antes de dormir, e que tinham sido feito na frente do espelho, com o chapéu de Sabina, uma insustentável leveza. Olhou e viu não sua imagem mas uma projeção de um lugar onde ia quando criança ao sótão do avô para ver bugigangas, velharias deixadas no esquecimento da infância. Saiu da cama e entrou no espelho, indo através de uma porta, a este lugar onde ia quando criança. O lugar não estava quando era jovem, havia sido deformando por um homem, pois ali havia entrado um homem com sua marca humana e masculina. Procurou fotos, mas não achou, havia ali uma vitrola muito antiga, com um vinil, aberto com suas faixas e seus sulcos, prontos para escutar. Botou o vinil na vitrola e botou a agulha na primeira faixa. Era um álbum contando, não sua música. Fotografias sonoras, sendo narradas pela voz de seu avô. Uma narração antiga, de muitos séculos para trás. Contava da guerra na Polônia, contra os Alemães, de um tiro dado na cabeça de um membro da Gestapo. Da fuga para longe da Europa, A vinda para o Brasil. A formação da família brasileira de Alice. Escutou-o todo com lágrimas nos olhos. Até que ouviu o barulho em algum lugar, foi procurando até achar o coelho saindo do buraco com uma cartola mágica na cabeça. Ali havia a fantasia do sumiço.
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