Fernando Andrade | escritor e jornalista
Lugar é qualquer palavra que poesia, indefinir lugar é assentar seu espaço íntimo. Não é uma posição geográfica, do momento que você fala, estou neste lugar. Se ouvir a voz que ecoa pode chegar por aqui. Mas se estamos num divã em alto mar, estamos des-referentes -lizados de uma posição que o eu expõe através da linguagem, sua mensagem. Porém, a poesia, pode ter uma escuta e uma voz que não a tenha como, pouso e destino. A voz é uma máquina de imagem como o cinema que transmite frames, no Céu de Lisboa. Boa é a linguagem que não marca sua fixação, sua origem. Fabiana Vanz trata seu novo livro Desconcertos (poemas travados num divã em automar), pela editora Patuá com uma liberdade tamanha ao mesmo tempo sem se referencializar como origem e marco.
É difícil fazê-lo em alto mar, mas como uma centralidade na posição do eu que fala para o outro ouvir. São poemas brincantes onde o lúdico cria espaços cênicos e circenses com a palavra, relacionando experiência biográfica, com jogo com a linguagem, mas se engana que o leitor, experimenta uma análise terapêutica do discurso, mas sim, uma conversa íntima entre o emissor e o ouvinte como se os dois estivessem na praia ouvindo o marulhar das ondas. O mundo é seu universo de histórias contadas, das cantigas ouvidas pela boca da avó, que faz fábulas para a menina dormir. O livro da poeta funciona com uma travessia onde não há norte, sul, leste ou oeste para refundar a voz de Fabiana. É uma voz ritualística e mitológica, onde as cenas não possuem cortes para fixar lugar para dizer aqui é o início e este o fim do poema.
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