por Luiz Otávio Oliani*
“Lições existem para serem, além de aprendidas, empreendidas.”, p.18 – Amalri Nascimento.
A terceira incursão solo de Amalri Nascimento no meio literário mostra um autor em ascensão. Primeiro, o contista; depois, o poeta e, agora, o cronista. Qual será o gênero do quarto livro do escritor?
“A vida passa…” é uma publicação feita no Rio de Janeiro pela Editora Caçadores de Sonhos, 2023.No prefácio à obra, Jorge Ventura alude sabiamente ao poeta latino Horácio, o qual cunhou a expressão “carpe diem”, lema observado em muitos textos da obra.
Ventura cita o “puro lirismo” e o “rico vocabulário” de um autor necessariamente poeta, que busca um diálogo com os leitores, fazendo com que a arte seja uma essência na luta neste “mundo hodierno, descrente e distópico”, nas palavras do prefaciador. Conclui Jorge que aproveitar o tempo é exercício existencial, pois a vida passa e não pode ser em vão.
E, para citar alguns excertos da obra, seguem à guisa de reflexão:
“Enquanto acessava as últimas mensagens das redes sociais, bocejava resquícios de sono. Atualizei-me e apaguei as saudações de bons dias dos grupos compartilhados mecanicamente pela maioria das pessoas.”, p.13
“O café é hábito comum; quem não gosta de um gole quente logo de manhã?”, p. 13
“Paira-nos a certeza de que depois que esse pandemônio passar – com a devida licença do trocadilho com a palavra pandemia – nada será como antes.”, p.17
“Que tenhamos a hombridade de aprendermos com a humildade de sorrir, também de graça e com a graça da sinceridade… Um sorriso pode fazer toda diferença.”, p. 22
“Sob o concreto armado, aprendemos a viver ante a imposição da, nem sempre dotada de civilidade, civilização.”, p. 26
“… são as 24 horas que não cabem mais num só dia ou seria o dia que não cabe mais em 24 horas?”, p. 29
“Quando nos damos por conta, o tempo passou e não há mais tempo que dê tempo de realizarmos o que se perdeu num tempo que nos foi precioso.”, p.30
“O bem viver não pode ser medido pela quantidade de primaveras. A intensidade das verdades de cada momento é mais importante. O perceber é intrínseco de cada um.”, p. 32
“(…) os sonhos podem ou não podem ser explicados?”, p. 33
“(…) ser lembrado é ser visto, é viver no outro, existir, coexistir.”, p. 45 “Como amar o outro se não tivermos a certeza de que estamos amando a si próprio, não avassaladoramente, mas verdadeiramente?”, p. 49
No posfácio, a professora, escritora, podcaster e pesquisadora de poéticas negro-femininas, Edy Justino, enaltece “(…) a humanização captada na inteireza performada dos olhares” em Amalri Nascimento. Ao citar que o cronista transforma “acontecências do cotidiano” em “reflexões múltiplas”, vale-se de linguagem de “(…) rebuscamentos vocabulares, neologismos, personificações (animismos), metáforas, poeticidade, além do fino trato com as temáticas que nos atravessam o viver e o existir (…)”.
E, para finalizar ao estilo de Guimarães Rosa que disse que “Viver é perigoso”, Amalri Nascimento disse: “Viver nada mais é que coexistir com as perspectivas do porvir.”, p. 26.
LUIZ OTÁVIO OLIANI é professor e escritor. Publicou 18 livros, incluindo poesia, conto, teatro e literatura infantil.
Que alegria ver a resenha do Luiz Otávio Oliani, sobre meu livro de crônicas, A vida passa…
Ao professor e escritor Oliani, meu abraço e minha gratidão, bem como ao editor Jean Narciso Bispo Moura, pelo espaço literário.
A literatura resiste…