Fernando Andrade | escritor e jornalista
A memória da gente produz um efeito plástico próximo ao poetizar. Por associações talvez livres ela cria frases poemas que fazermos o percurso para dentro de nós como um cinema interno. Poetizar talvez seja um exercício de memória, onde palavras que gravitam no ser tanto de nós quanto das coisas, vem ao nosso consciente para o laboratório da criação. Lendo o livro novo um pequeno romance tão poético quanto epifânico, da escritora Geny Vila-novas, um lugar muito distante, editora 7 letras, vejo que a lembrança dela de eventos quando a infância promove a estética do encantamento do mundo, somos até então apaixonados pelo real onipresente, então, cria nela, autora o exercício não é da sofisticação mas sim da humanidade ou humildade de transformar aquilo tão etéreo quanto uma fumaça de cigarro volatear pelo ar. Sítio de cima, com seus animais e suas aventuras pelo campo. A escritora não elabora a dor, muito normal na infância, mas transforma palavra em saudades, em recordações de formação vamos falar não de personalidades; um termo tão psicanalítico, mas de criaturas, que são estes elementos meta-ficcionais. Da análise ao discurso teríamos uma biografia. Mas a poética é uma atriz formidável, que gosta de falsear aquilo que tem dentro do cérebro. Encenar novamente com outra roupa, lembrando que as palavras são também vestimentas para o (i)real significado.
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