Livro de ficção performática brinca com os vácuos da autobiografia em segunda pessoa

Jerome Poloczek - Livro de ficção performática brinca com os vácuos da autobiografia em segunda pessoa
 
 
 
 

Fernando Andrade – escritor e jornalista

Se tratássemos nosso cotidiano mais prosaico, como tu, na segunda pessoa.
Não seria o caso de ter um alter ego numa narração meio biográfica.
Um personagem como disfarce de nossas dependências do dia a dia.
A loucura não seria nossa, mais um delírio do outro que não tem
nada conosco, nem feições nem ficções. Mas um distanciamento é possível, quando podemos adotar certa presunção de performance onde eu é um outro.
É o que acontece no livro Aotubiografia do belga Jérôme Polockzek, editora Aboio. Toda artificialidade é desmascarada por uma intimidade com seu ambiente, seus amigos, familiares, onde fotos prosaicas, beirando à crônica, se misturam com uma narração, onde o poético ou até certo surreal, irrompem numa janela da vida do autor, em sua não perfeição de vida obediente, mas cronológica perante o absurdo de um casaco com uma etiqueta que agora não devemos morrer tão cedo. A leitura força no leitor quase certo estranhamento familiar, como se o outro fosse um diretor para nossos pensamentos, recalcados por um desejo obstruído pela intensidade do destino, da moira. É um livro para se ler com calma, refletindo imagem e texto numa harmonia simbiótica entre real e farsa.

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