Fernando Sousa Andrade – Como preparou este fluxo de pensamento da narradora com tanta habilidade para depurar tanto a linguagem quanto os arquétipos dos personagens? Comente.
Luizza Milczanowski – A criação da personagem foi o mais difícil e demorado no processo do Diálogo, algo que foi elaborado antes mesmo do Diálogo ser este livro, quando ele era outra coisa. O primeiro processo foi de conhecê-la, profundamente, mas também naquilo que eu não era capaz de compreender. A narrativa do livro, de forma geral, foi muito cansativa para mim. Foi um livro que me exigiu muito, emocionalmente. Eu li muito sobre o assunto também, o que possivelmente ajudou.
Fernando Sousa Andrade – Escrever- ato solitário mas criar vida parece algo bem sociável. O contato na ficção é uma sublimação?
Luizza Milczanowski – É um pouco do que a Marguerite diz, não é, que escrever é uma contradição. Escrever ficção. Escrever é um ato solitário, mas dificilmente me sinto sozinha no processo. É uma Descoberta muito prazerosa. Um pouco de loucura também, eu acho. Algo que se sobrepõe a todo resto, na vida. Esse processo de criação, talvez seja sociável. Quando o livro vai para o leitor, quando já se foi de mim, não é mais meu. No entanto, é uma parte igualmente prazerosa, finalmente ver o livro circular, ouvir me falarem dele. É quando descubro o que fiz. Antes, no processo, não sei muito bem o que virá, o que pensarão sobre, e não é algo que me questione. Então, com os leitores, vem a surpresa de saber o que talvez tenha feito. O livro existe em si próprio e podemos falar dele. Não é mais meu, ainda bem. E, finalmente, temos a comunicação. Bataille diz que a literatura é comunicação, eu concordo com ele.
Fernando Sousa Andrade – Como você utiliza a leitura como forma de expressão na escrita? Comente.
Luizza Milczanowski – Para mim é algo muito orgânico, muito natural. Eu gosto de usar referencias literárias na escrita o tempo todo, acho muito divertido. Sou uma grande apreciadora dos detalhistas, dos autores que gostam de aprofundar repertórios por meio das referências, o que vai ser observado ou percebido de acordo com o leitor. E ler e escrever faz parte da minha vida, sempre em conjunto. Não existe, para mim, parar de ler quando estou escrevendo e vice-versa, uma coisa não afeta a outra, não de maneira negativa.
Fernando Sousa Andrade – A sexualidade das personagens passa por um experimento totalmente sincero tanto na linguagem quanto na atmosfera. Como lapidou-a?
Luizza Milczanowski – Eu precisava compreender o que aquelas personagens sentiam, sem julgá-las. Eu nunca quis julgá-las, só entendê-las. Você não é capaz de entender completamente o outro se se propõe primeiro a moralizá-lo. Então, eu fui ler, tentar entender a questão da sexualidade, que é uma coisa me interessa muito na literatura e fora dela. Principalmente no que diz respeito à sexualidade como transgressão, nesse lugar do interdito e de ultrapassá-lo. Meu maior esforço foi tentar entender como pensava a menina, mas principalmente como pensava Leonardo C. era um questionamento da própria protagonista, um esforço também dela de tentar compreender esse homem. E é a partir do esforço dela que eu também tive de realizar o mesmo esforço, de compreender um homem como Leonardo C. a partir de um olhar de ódio e de amor.
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