Fernando Andrade | escritor e jornalista
O campo da escrita também pode ser o espaço do fogo. Se há nele, fonte de calor, o homem nele se insere para ter uma ideia de criação. Queimar não deve ser um ato de destruição. Trazer a vida das cinzas, aquilo que perdura como traição. Como desdita. Mas claro que não é o pó da morte aquilo que transforma o corpo em esquecimento. É a transformação da palavra em fogo que ilumina a escuridão do pensamento, que negativa, que desfigura a figura humana. Como uma cena onde botamos a luz de uma fogueira que cria espaços de intimidades, de poética, assim como Ailton Moreira faz em seu primeiro livro de contos ‘Incontido ser(vo)’ pela editora Penalux. Desta luz perene que remete ao calor humano, que protege, que abençoa, seus contos trazem o plano onde A cabana não é apenas uma projeção de Cristo antes de subir na Cruz. Não há o objeto santificado da religião ortodoxa em seus textos, apenas uso uma imagem poética do Cristo humano, demasiado humano. O poeta autor combate esta terra onde o racismo, e o preconceito disseminam pólvora e ódio através de palavras dízimas da segregação. São poemas em formato de narrativas, lidando com fronteiras, marcações identitárias, onde a linha é a ideia criativa do fogo geracional como espaço de proteção.
Não é um campo fechado, mas sim a ideia de um sol para todos recebendo luz e dia produtivo para todos os viventes desta terra.
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