Novela ‘A torre do silêncio’ em ode poética fala de solidão, por personagens extraviados de relações sociais
Fernando Andrade | escritor e jornalista
Fico pensando na condensação entre um lobo e um gato, na história da literatura e da ficção. A solidão do lobo com a liberdade do gato, não daria um elogio à criação artística. Podemos assumir os arquétipos destes dois animais para sondar esta é a palavra certa para o novo livro do escritor Cleber Pacheco, uma novela de 70 páginas, chamada A torre do Silêncio pela editora Penalux, porque sondar parece com uma arte da espreita, ambas parecendo tatear algo que é ao mesmo estranho e contenha certa vacuidade pelo desnovelo da existência ser algo tão etéreo quanto misterioso. Cleber escreve uma novela onde os lobos se ambientam ao seu habitat, tem suas culturas, afazeres, mas a solidão, e ao mesmo tempo o silêncio entranham em seus seres como uma argamassa dentro de um sótão. Para cada personagem uma geografia cultural e fronteiriça entre nacionalidades tanto europeias como asiáticas.
A liberdade dos gatos entram em preferências por ações ou estéticas ou domésticas, deixando os personagens não inertes ou sem ação. O autor fragmenta sua narrativa em suítes poéticas, criando um efeito plástico e também meio teatral. A vida parece caminhar para o fim da existência de cada um deles e cada morte parece ter alguma ordem simbólica, sem presenças, ou rituais externos. Um livro não triste, mas carregado de carga poética sobre finitude muito semelhante a certa filmografia oriental.
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