Livro de poemas ‘Caramelo quer ver o mar’ faz de onde o cão encerra a ode de uma baía poética

Fernando Andrade | escritor e jornalista

O silêncio de um cão nos olhando parece um ato de criação de um poema.
Qual palavra-latido virá ao pensamento para expressá-lo na página. O poema tem som, mas não tem cheiro. O cão tem seu odor mas não carrega a dor de um poema, ou será que sim, nos seus momentos de solidão sem seu amigo homem. O cão abana o rabo quando está folguedo, o poema tem o seu quando o sentido fugaz vai sumindo, sumindo em seu sentido-signo. Pois, penso num poema-cão que não vá à livraria, mas sim ande na calçada de Copacabana, latindo para desconhecidos. Este livro que resenho agora, Caramelo quer ver o mar do poeta Tiago D. Oliveira, editora 7 letras, começa quase na epopéia, que é perto do poema sonoramente. Vamos andar pelas matas, bosques, e trilhas de uma Bahia de todos os santos, neste cão guia que Caramelo, nesta peregrinação para achar o mar enquanto a praia não vem. O poeta pelo caminho, faz um certa carta de filosofia canina, que sempre em movimento desenha cenários, busca inspirações no cancioneiro baiano, mineiro, paulista, para parafrasear o poeta que olha o mundo como este ser de quatro patas, que vê poste onde sua necessidades fisiológicas o atendem. Com uma necessidade de afeto, o texto percorre no leitor uma visão quase mediúnica dos poderes de percepção dos embates, perigos onde o cão passa, onde o leitor percebe uma citação aqui, uma paródia ali. Muito desta multi homenagem ao lado poético do cão vem de certa capacidade de aglutinação da leitura, de recolher bitucas usadas por outros leitores, de farejar uma outra fêmea para o cio. Neste passeio pelo lado pitoresco cão de Salvador, temos nós espectadores deste cinema canino para turistas da leitura..

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