Fauno Mendonça – escritor
Ao ler as letras soltas de Fernando Andrade em sua obra Cânticos para enlouquecer Cristo, cheguei à conclusão de que pouco importa que a escrita seja pagã ou cristã, o importante é que a palavra seja soberana para avançar sobre os corpos, os ganhos e as luzes caatingas.
Nem me importo ainda que o cristão esteja numa casa vazia e reflita que não tem casa, porquanto mora em um mero mosteiro. O que realmente importa é torção dos sentidos ao lado de um colchão entulhado de livros e roupas ouvindo um blues demoníaco em um campo de trevas.
O mais importante é que a escrita não seja rasa, mas que seja profunda em suas fissuras onde as bailarinas dançam o amor listrado para flutuar em asas de beijos e de desejos.
Para mim, o excepcional se centra nas linhas sem limites insistindo em contar histórias de seu e de meu tempo, mesmo que somente haja brancas nuvens.
Também não me importo com os sufixos e nesse toar, apenas rogo a Cristo para eu também ter força para ensinar o amor com palavras vivas de um samba embirrado.
O livro de Fernando Andrade é como uma ferida que sangra até a cicatriz aparecer, como magnificamente dito por ele nas linhas sensíveis e tortuosas de sua obra.
Definitivamente, nunca havia lido ou ouvido uma definição tão verdadeira sobre livro. E isso me ajudará a levitar de meus levantes até o chegar de minha morte.
As palavras lançadas por Fernando Andrade em sua obra são vícios que do nada nos tornam presos em um delírio entorpecido, em uma fantasia ao lado de uma lareira com uma luz tênue a causar inflamação aos olhos ao perceber um olhado percebido.
E assim, para aclarar as equações da vida e da morte, sigo lendo e relendo Cânticos para enlouquecer Cristo para sentir as loucuras ao lado do verbo sem me importar com o gato, como queijo ou com o rato.
Fernando Andrade brinca com as palavras e se esconde na ingenuidade, ante a complexidade de um mundo sisudo envolto de dilemas. Aponta para o lúdico, mas atinge o grito e o silêncio para que a reflexão se manifeste do nada e os coatores da vida acordem de seus signos vivos ou mortos, porque o trem deve ser escutado para não perdê-lo.
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