Fernando Andrade entrevista a poeta Lúcia Leão 

Lúcia Leão - Fernando Andrade  entrevista a poeta Lúcia Leão 
 
 
 
 

FA: Entre o cinema e  a pintura, temos imagens, algumas matiz sobre matiz, no cinema imagens entre cortes em movimento. Seus poemas parecem ficar entre estas duas artes cinéticas. Aludir é uma arte profunda. Você faz muito bem. Me fala destas minhas considerações que fiz acima sobre seu livro.

LL: Comecei escrevendo contos, só depois vieram os poemas. Talvez isso que você notou seja uma combinação de um espírito mais narrativo inicial, e que continua presente, e de uma necessidade de suspensão, do corte, como você diz. De deixar a experiência como cena. Talvez escrever poesia seja isso mesmo.

FA: Nunca vi tanta exímia capacidade para extrair das palavras potencialidades significantes. Som, ritmo e cadência parecem transmitir uma musicalidade transcendente. Comente.

LL: Que bom ouvir você falar da musicalidade, você ter sentido isso com os meus poemas desse livro. Talvez morar fora do Brasil e viver em dois idiomas também na escrita tenha criado a possibilidade para esses elementos que você percebeu. Sinto que isso entra no jogo da composição. Todos e todas as poetas têm uma relação com a música, em níveis variados de conscientização. No meu caso, às vezes explicito minha atração até em contos com personagens que têm uma profunda ligação com a música.

FA: Falar de pessoas próximas, muito próximas, parece até um evento difícil para lidar com a poética. Ser literal ou figurado com pessoas queridas, parece ser uma preocupação. Fale disso.

LL: O vivido é quase todo ficção nesse livro, por vários motivos. Uma única frase de uma amiga porto-riquenha sobre adoquines cria um enredo exclusivo da poesia. O nome da ex-namorada de um sobrinho me presenteia com um narrador masculino num poema que não tem nada a ver com nenhum deles e que, supostamente, não tem nada a ver comigo, só com quem conta o poema. Acho que demorei a publicar meus poemas em parte pela reserva em relação a uma associação biográfica. Então, de repente, abracei a ficção compartilhada com menos receio.
Minha mãe não é sempre a minha, minhas irmãs são, quem sabe, o feminino logo ali, meu filho é mais do que só isso. E ficcionalizar me parece natural.

FA: A ironia parece ser tão delicada, nos seus poemas, que  às vezes noto que ela vai matizada por outras sublimações, pela delicadeza, nuances retóricas. Fale disso.
LL: Por enquanto, só sei fazer poemas desse modo. Talvez às vezes tenham delicadeza demais, muita lateralidade. Por outro lado, deixar mais para o leitor ou a leitora completar e experimentar em meio a essas nuances torna o jogo mais animado e abre mais possibilidades para a imaginação. Eu gosto disso.

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