FA: A dor é aguda, a vida passa e o poema tem que ser eterno. Neste seu livro há uma sensação de cura, que os minutos aceleram e deixam a melancolia para trás. Comente.
EF: Toda minha poética seja na poesia ou na crônica tem sido uma poética de cura, porém não entendo como uma eliminação da angústia, da dor. A cura é o entendimento de quando somos vulneráveis às vicissitudes da vida, mas também vamos aprendendo a cair melhor, refazer. Vértices é minha tentativa de dizer que o presente é minha morada , embora traga comigo o passado e vislumbre alguns projetos futuros.
FA: Há um tempo fantástico onde a ação desnorteia. Real e figurado entram no mesmo passo. Ser mais real que o rei. Sua sabedoria nos conforta para certa doce ilusão do existir. Comente.
EF: Viver fantasiar. Estamos sempre criando possibilidades para melhor existir. E talvez por isso eu fale sobre a infância quando a fabulação é tão natural e sobre a velhice quando a fantasia é necessária para reconstruir histórias de vida. Fazer poesia de algum modo é criar reinos possíveis reais, onde haja espaço para mistérios insondáveis.
FA: O Baú é uma figura quase mitológica. Guarda além de objetos, lembranças, solitudes, esperanças. Me fale disso.
EF: Meu baú está repleto de experiências, algumas traumáticas e outras encantadas. Também está carregado de leituras que fiz de tudo que aprendi. Com meus sentidos de observar o mundo de tempos em tempos, eu olho para ele e dou uma nova hierarquia no valor que guardo para ele.
FA: Como passar da linguagem do cotidiano do dia a dia para transformar o tempo em matéria poética. Explique.
EF: Não sei se há receitas. Em meu caso, ler bons poetas me ajuda a criar intimidade com a linguagem da poesia, a qual ultrapassa a simples expressão dos sentimentos ou visões de mundo. É um aprendizado para vida toda e exige sensibilidade para olhar o que nos cerca. Olhar para dentro de nós e além de visualizar e escutar o que a poesia quer dizer para além do que pretendemos.
Please follow and like us:
Be the first to comment