Fernando Andrade entrevista o poeta Jansen Hinkel sobre o livro Nocturne

Jansen Hinkel - Fernando Andrade entrevista o poeta  Jansen Hinkel sobre o livro Nocturne
 
 
 
 

Fernando Andrade – O estranho – o não familiar parece entranhar-se no corpo dos seus poemas. Como se o dia ou rotina fosse mascarado por uma figura insólita, um narrador totalmente deslocado. Comente um pouco.

Jansen Hinkel – Não penso que a minha voz ao escrever tais poemas, ou a voz de um narrador que surge de vez em quando no próprio texto, seja tão consciente de si mesma dessa forma. Eu até reconheço a estranheza ou o deslocamento ou a solidão nos poemas, afinal são poemas que retratam a noite, embora não seja tão proposital assim, do tipo pensar em uma teoria (no caso o infamiliar) antes de escrever.

Fernando Andrade – Me parece que o humor, seu humor, é tão coeso dentro de uma cabeça que solta pequenas fagulhas de lampejos ou sorrisos de comicidade. Não se trata de ser sutil, mas de contenção, explique esta sua forma de humor.

Jansen Hinkel – O humor, quando ocorre, vem quase para fechar o texto ou dar um ponto final, como um sorriso de ironia ou fazer graça de si mesmo. Não chega a ser uma piada que termina em gargalhada, é mais um mau humor que meio ranzinza ou sombrio se torna um pouco engraçado.

Fernando Andrade – A noite pode não ser uma transformação, ela é um estado do ser que opera de outra forma. Nela o sonho, as imagens delirantes, podem ser elas mesmas sem serem criticadas. Fale da importância do nocturne no seu livro.

Jansen Hinkel – Nocturne são poemas em que os títulos informam a hora da noite em que o texto foi escrito. Também há um jogo implícito de referência a Chopin e à insônia. Não busquei nada transformador em tal trabalho, é quase um diário, uma espécie de registro do presente. E sim, como registro, apesar de poesia, não quis criticar a natureza do poema, é um trabalho meio lúdico, uma tentativa mais do corpo e dos sentidos do que algo cerebral.

Fernando Andrade – Não há repressão na libido da sexualidade. Isto ajuda na verve cômica do livro. Fale um pouco mais disso.

Jansen Hinkel – É mais ou menos o que disse na resposta anterior, em relação ao corpo. E como são poemas escritos à noite, obviamente a sexualidade transparece como qualquer outra vontade do corpo. Se isso ajuda na comicidade do livro, mesmo que ocasional, não sei responder, aliás não faço ideia se todos os leitores vão considerar ou reconhecer o cômico na leitura.

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