Fernando Andrade entrevista o escritor José Fernando Guedes

Jose Fernando Guedes - Fernando Andrade entrevista o escritor José Fernando Guedes
 
 
 
 
 

Fernando Andrade – O título deste seu belo romance de certa forma, traduz o espírito do personagem narrador e do próprio livro. O que a memória e seus filtros e cores podem colorir um outro futuro promissor. Comente. 

José Fernando Guedes – A memória é traiçoeira. Pode confundir. A partir de um momento, a parte traiçoeira da memória é lançada fora e o homem passa a utilizar a memória em estado bruto. Se há algum vislumbre de paz, essa possibilidade jaz oculta na memória, sem adornos, a memória real.
Precisamente essa memória, com sofrimento, com vilanias, querendo ou não, essa memória é o homem. Ela pode ser o princípio de algo possível de existir através do amor. E do perdão. Essa memória-amor irá pavimentar o resto.

Fernando Andrade –  Há no cerne do seu romance uma estrutura fílmica e imagética. Como você pensou dramaturgicamente o enredo dele para passar este aspecto cinematográfico. Comente.

José Fernando Guedes – Não foi proposital. Conforme o livro fluía, ao reler certas passagens achei que o texto ficaria mais ágil se eu “ salpicasse” imagens, fotos, por assim dizer, mostrando como que flashes do que ocorria. Confesso que não foi pensado exaustivamente.

Fernando Andrade – Há um simbolismo forte sobre tanto a masculinidade quanto sobre a paternidade, na psique do homem, Theo. Fale sobre isso.

José Fernando Guedes – A masculinidade e a quase-paternidade duelam na mente destroçada de Theo. Ele é duplamente frustrado. Sua masculinidade foi humilhada da forma mais terrível. Sua paternidade foi uma ideia ou sonho que desapareceu sem ver a luz. Ao se dar conta desse destino desarraigado, o que sobra dele? Provavelmente alguma coisa além da masculinidade e da paternidade. E que somente o amor e o perdão podem resgatar. Essa é exatamente a função do amor e do perdão: o resgate. Theo  não é homem apenas por sua masculinidade ou quase-paternidade. No fim, ele descobre que é mais que isso.

Fernando Andrade –  O cão guia não é apenas um amigo, mas sim um mestre, aquele que guia o outro a um grau de civilidade. Comente o papel do cão.

José Fernando Guedes – O cão representa a bondade gratuita. Ama o homem com um sentimento puro. A convivência com um ser tão fiel e puro— cuja existência era inacreditável para o homem— guiou o cego a mundo de luz diferente, somente com sua singela presença ao lado dele. Aos poucos o cão fez do homem, humano.

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