Fernando Andrade | escritor e jornalista
Entre os mortais, a linguagem é o elemento que dura mais depois do finito. Pois para isso, a poesia é a estética mais eterna do gênero literário. Ela transfigura a mortalidade para que o poeta seja um pouco imortal. Mas e a paixão não se trata de uma linguagem para o corpo não ser tão perene. Amadureça e não apodrece feito a carne depois do fim. No livro de poemas, Toda mulher que ama é Medeia, da poeta Patrícia Porto, editora Reformatório, a terra, terrena, move os signos da paixão pela palavra, pelo desnorte do amor. A poeta facetamante disfarça através da mitologia, sua persona biográfica, criando uma dramaturgia, onde as pulsões e os desejos copulam com a linguagem poética numa espécie de antropomorfismo gramatical. Patrícia faz uma poética do rude, adoçada com o afeto mais honesto, facetando imagens visuais, entre o mitológico, e o cotidiano. Medeia transforma o amor não em perdição mas também numa liberdade incondicicional, fugindo dos padrões normativos, da educação moralista. A tristeza feita pelos banais, é receita de caretice. Mas a tristeza humana, demasiada humana, esta prescinde da linguagem mais sofisticada.
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