Fernando Andrade entrevista a poeta Alexia Carpilovsky sobre o livro JARDIM DE RUÍNAS

JARDIM DE RUINAS divulgacao - Fernando Andrade entrevista a poeta Alexia Carpilovsky sobre o livro JARDIM DE RUÍNAS

 
 
 
 

Fernando Andrade – Sua poética tem uma relação de distanciamento com as coisas do real. Talvez por isso sua linguagem tenha certo preciso domínio sobre os sentidos e não sentidos da vida. Comente.

Alexia Carpilovsky – Tenho minhas dúvidas se ela se distancia das coisas do real, ou se está na verdade mergulhada no real de tal forma que pareça um delírio. Porque o real que estamos vivendo é delirante, é distópico.
Vejo meus poemas como um modo de experienciar tudo isso colocando a estranheza como uma chave de leitura deste momento. Encaro minha poética como algo que está no meio das bactérias, dos besouros, e muito perpassada pelo corpo – ou seja, imbuída desse real.

Fernando Andrade –  Tua prática da poesia se deve muito à pintura, pictórica, história-imagem. Como é este processo tão figurativo? Fale disso.

Alexia Carpilovsky –  Acredito que meu processo seja figurativo por dois motivos principais: por conta da minha pesquisa de mestrado acerca do corpo, e da minha relação com as artes visuais como grande contaminadora, no bom sentido.
No mestrado, me debrucei sobre as representações do corpo na contemporaneidade, entendendo como diversas questões do nosso tempo tem sido simbolizadas por meio de imagens corporais fabuladas, como fusões com a tecnologia ou com elementos da natureza. Minha escrita se tornou também perpassada pelo corpo, ou por diferentes corpos, mas o interesse por criar imagens vívidas é antigo; criar atmosferas para serem habitadas momentaneamente.
Somado a isso, trabalho há alguns anos no campo das artes visuais, que, além de uma paixão, passou a ser minha rotina, no sentido de que lido com essa linguagem praticamente todos os dias.
Assim, minhas referências, formas de leitura e interesses estão costurados a essa língua, que também faz parte da minha formação acadêmica. Quando estou frente a frente com uma pintura ou com uma escultura que me cativa, a presença, a materialidade daquilo é quase elétrico, aquele corpo tem peso: busco essa sensação no texto, um tipo de densidade física, conseguir sentir a presença das palavras.

Fernando Andrade – Este paradoxo no título, como se faz no processo da sua escrita do livro? Como trabalha ele nos poemas?

Alexia Carpilovsky –  Na orelha, a Julia Klien faz uma leitura muito atenciosa e instigante sobre um movimento ‘moebiusiano’ posto no livro, que está desde o título. Ela coloca que o primeiro poema, “ouroboros” – que também é o da contracapa – dá o tom do JARDIM DE RUÍNAS: o fim e o início juntos, indiscerníveis. A noção de algo que você não consegue localizar no tempo me agrada – algo que é pré-histórico e apocalíptico, véspera e destroço, como ela destaca. Esse efeito me interessou e me interessa na escrita, misturar elementos associados ao passado e ao futuro, criando um presente que o leitor não consegue exatamente localizar. Nós habitamos um tempo cruzado por muitos tempos, vivemos muitos começos e muitos fins, então, ao escrever, eu buscava esse indiscernimento, essa confusão.

Fernando Andrade – Os títulos são um capítulo à parte. Como eles se integram com cada poema, imageticamente. Comente.

Alexia Carpilovsky –  Durante a leitura crítica que fiz com a poeta Maria Isabel Iorio, ela destacou como diversos títulos eram compostos por apenas 1 palavra, e sugeriu que eu adaptasse outros para criar a sensação conjunta dos poemas serem quase verbetes de um dicionário, com algumas exceções. A partir dessa troca, revisitei os títulos e busquei escolher palavras que expandissem as interpretações e os sentidos de cada poema – dando mais camadas de leitura –, e que se encaixassem dentro da narrativa das ruínas e da confusão de tempos. Alguns outros títulos parecem verborrágicos em comparação, causando mais um estranhamento.

Please follow and like us:
Be the first to comment

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

Social media & sharing icons powered by UltimatelySocial