Fernando Andrade
Dois amantes se mudaram para cidades distantes uma da outra. Já não podiam se encontrar com regularidade. Depois de muito tempo juntos, com certa libação carnal, rolando em demasia, agora uma em São Paulo com novo emprego, e outra no Rio devido à familiares com doença, resolveram ainda se falar de longe um do outro. Resolveram para começar adotar o modo cartas que eram postadas no correio de cada cidade. Estas cartas seguiam sempre na segunda feira, início da rotina do batente. Falavam por cartas, sobre o tempo, se ontem tinha chovido em São Paulo o dia todo. No rio havia dado praia e o homem foi jogar vôlei na areia com os amigos. A carta era o recato de um tempo antigo, onde tecia certas amenidades sobre o cotidiano. Não havia tempo para o trabalho, pois eles trocavam mensagens escritas em plena segunda-feira. O fim de semana sutilmente era comentado em passant. Depois de um tempo resolveram passar para o email, e então certa curiosidade sexual aflorou nos dois. Ambos citaram certas conquistas muito pouco resolutivas, o que a ausência provocava certa vocação para a fantasia. Entre mentiras e fatos, ambos objetivam certos ciúmes feitos quando muito tempo falta na presença física dos corpos em olhares. Falavam de certas ficções baseadas na memória involuntária quando o passado de ambos se altera por um futuro incabível. Cansados desta falta de lógica afetiva, partiram para o facebook e então desinibiram todas as barreiras morais sobre tesão onde o corpo fala por anteparos virtuais. Falaram de tudo, de fantasias ou sonhos eróticos que ambos nutriam entre si, com outros parceiros. Assim, um filme com cortes ou censura era promulgado pela lei do super ego, embolados. Mas uma em São Paulo com emprego novo, e o outro cuidando de entes doentes só poderiam se ver num curto fim de semana em alguma praia de Ubatuba.
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