Aproximação fonética de duas palavras fincadas na terra. Desterro e Enterro. Uma: é uma posição do ser, talvez de exílio, de estar se sentido só, mesmo num contexto social. E não é preciso viajar para sentir longe de sua terra. Na sua aldeia, no seu sítio cercado de fronteiras, arames, com relações de trabalho ou não, o ser pessoal pode está enterrado em si. Ou mesmo o social o enterra nas camadas subjetivas do seu corpo. O enterrar já pressupõe a não fatuidade do corpo-e-vida, o aniquilamento da vida acima dos pés. Os sumiço dos despojos, as
cerimônias: a ritualização da ausência do afeto.
No livro Fissuras de escritora Henriette Effenberger, editora Penalux temos contos com teor realista, mas que carregam em seu ventre, terroso, um cunho de fábula. Não que haja tamanhos de uma moral ensinadora. A autora apenas narra e descreve cenas cotidianas, acontecidas entre espaços crus onde a afetividade tanto do caráter da humanidade dos viventes quanto do salobre-solo, mesmo em situações onde não há terra, solo, como o padre indo à lugares nada ortodoxos, Pai nosso, a escritora retira da cena, do cenário em questão um exercício de procura do outro, podendo ser um gato esfomeado dependente de uma criatura que dê a mão ( alimento), Miados ao Léu, tanto num velho pescador que volta à casa desolado, desterrado, pois sua ruína não é apenas econômica, mas sim degredada. Não há olhos nele, Navegar é preciso. Como não há olhos para a repetição banal da vendedora de alimentos que passa sempre com seus ingredientes, não adianta ser visível, sua passagem pelo conto em si parece uma sombra que vai se desvanescendo no decorrer do final do conto, A velha da sacola.
Henriette como certos autores não despersonaliza seus personagens, há uma certa mania de contemporâneos de sufocar em mazelas os personagens que acuados por desatitudes sociais gramam pelo ambiente como quase trilheiros do exílio. Em certo conto que me chamou muita atenção, pois, numa leitura de um leitor politicamente correto faria um péssimo juízo! do personagem em questão. Um homem com asma tem dificuldades para se locomover e se acionar em ação frequente. É repreendido no trabalho por chegar atrasado. Uma situação social exposta; fraturada em prejuízo do personagem, que haverá juízo de todos os lados, Três
apitos.
Aqui que quero chegar. A grande força dramática da autora está em uma ordem sutil, criticar toda as relações de ordem e hierarquia que acontecem no mundo de cima dos pés. Mas como é se sentir morto em vida? Como é ser enterrado vivo, em suas perdas cognitivas de afeto? Há na sua totalidade de narrativas, uma procura da autora em indagar cadê o humano? sobre a terra. Em cada face de lugar e de rosto vincado pelo abandono, pela dita palavra eufêmica FATALIDADE.
Fernando Andrade – escritor, poeta, parecerista, jornalista e crítico de literatura. Autor de 4 livros, o mais recente “Perpetuação da espécie” [Penalux, 2018].
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