Livro de poemas Gravidade das Xananas metaforiza com uma dimensão muito poética o caule humano por seu existir terreno
por Fernando Andrade
A relação entre o solo e o vinco de uma flor que brota paulatinamente da terra veio-útero- terroso. Penso qual existência de uma flor? qual seu descaminho por entre tempo e eternidade? Será trepadeira, anarquista, uma Ana que trocou de nome, pois Margarida lhe lembrava as avós rendeiras que não aprontavam doidices na vida de outrora. Prefere ser Ana simplesmente sol solista solar vem para ficar em canteiros de todo lugar que lhe aceite pró-germinar, louca, portentosa, prosada-poética.
Dizem que é comestível, e se confunde com mato. Quem? hoje observa do ponto de vista poético, um jardim. O espaço do jardim, parece algo musical, separado do aço traço do cimento, do bloco armado. Mas é sobre fundamentos do espaço humano, de seu contorno de espécie, quem somos nós? de Gêneros, que o poeta Diego Mendes Sousa tece como uma rama através de tessituras mito-poéticas seu novo livro, Gravidade das Xananas, editora Penalux. Vi ou vislumbrei uma mitologia da humanização do ser ( humano) seus garranchos-ranhaduras,em afetuações que seguem um temperamento sobre afeições que estão dentro do corpo.
É para isso, o poeta traça uma espécie de tela invisível tracejando um perfil somático da flor em suas mimeses de discursos sobre a existência humana que pelo ego-gozo-escrito redireciona o natural da natureza para o civilizado porém este atravessado pelo desejo e pulsão, mas me pergunto, xanana não teria esta vontade de estripulia, de bulir com a vida, de ser desejada mesmo pela forma do homem andar pela cidade, não parar e nem prestar atenção aos nascimentos-vida-e-morte de uma flor transversalizada também por aspectos lúbricos?
O poeta tem um cuidado extenso com palavra versejada, que quase se (ou)torga numa prece mística ou religiosa. Com veia levemente barroca, seus versos tocam o segredo que tem dentro da alma do homem, às vezes lobo, às vezes cordeiro. Ao leitor, não tente decifrar os símbolos por trás da aparência da flor. Claro o seu caráter sexual é por demais evidente. Mas o que se pode falar na frente ou por trás do sexo? Que espaços, desvãos, sujeiras, até limpezas, se pode chegar a relação mundana do homem, até com Deus?
cotação: muito bom
Fernando Andrade, poeta, escritor, critico de literatura e jornalista. Autor do livro “Perpetuação da Espécie“, editora Penalux, 2018.
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