A saciedade impossível na poética de Anna Liz, por Paulo Rodrigues

 

por Paulo Rodrigues

Anna Liz é uma autora que segue firme na construção de um caminho literário sólido. Vai marcando os passos, as jogadas, as vitórias com uma carga humana e densa. Em muitos momentos nos arranca do banal cotidiano, com uma certa violência.

Sabe aproveitar bem as sujeiras da vida, as paredes manchadas pelo tempo, os palitos que foram queimando os sonhos, de forma primitiva para transformar em poesia. No Livro novo “SOB(RE) APENA ESCONDIDA” busca a saciedade das comoções, com um olhar coletor. Como podemos observar em Sobre a Tela:

“a dor
o rasgo
o cigarro
a dose de whisky
entre paixão e desavenças
o beijo da moça
na tela, duas
na vida, várias
a vida tão agitada
quanto a de Frida Khalo
não fosse a monotonia.”

Há aqui um macróbios, imenso, representando bem a existência utópica do mundo coetâneo. No entanto, resta um vazio nas pequenas células de Anna Liz, que é também o nosso vazio, a nossa impossibilidade de realização.

O poemário é dividido em três partes: I – SOB(RE) A OUTRA FACE; II – SOB(RE) O MISTÉRIO DO OLHAR e III – SOB(RE) A PENA GASTA. Não há escamas metafóricas iguais, encharcando a mesma água. A poeta extrapola a dimensão vital, apresentando um arquétipo próprio e copiável, pela poesia contemporânea.

A insaciedade é marca forte da nova poesia de Anna Liz, que nos ‘mata a sede com água salgada’.

 

 

PAULO RODRIGUES – Professor de Literatura, poeta, escritor, autor de O Abrigo de Orfeu (Editora Penalux, 2017).

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