à beira
não sei quanto tempo temos
para entender nossas preces
queimar nossas máscaras
chorar nossas inércias
respeitar nossas mais íntimas loucuras
não sei quanto tempo temos
para descobrir
uns nos outros
a matéria de que somos feitos
talvez o que nos falte
é a certeza
de que estamos
sempre à beira de ser
e sem tempo para querer
olhar o outro como a nós mesmos.
vertigem
como voltar a andar
se não sabemos onde estão nossas pernas?
como voltar à alegria
se nossa boca só mastiga estranhamentos?
como nos reconhecermos
se nosso humanismo é instituição intelectual?
há mortos em todos os continentes
abusos em todas as contingências
desesperança em nossa falta de crença
e não sabemos o que fazer com nossa nudez
hoje não quero poesia
nem iras
nem o grito seguinte
quero apenas a certeza de ser ser ser.
flash
engoli o dia
que nasceu pelo avesso
vomitei o saldo
de um estômago revoltado
(desci do salto)
que se dane a apologia
dos que pouco são
e tudo querem ser
continuo na tabacaria
de mãos dadas com pessoa
nada sei nem nada serei
sobre minha lápide um poema dançará.
Lourença Lou. É mineira, das terras vermelhas de Drummond. Formada em Letras, publicou dois livros de poesia, participou de inúmeras coletâneas de poesia e de contos, revistas literárias, sites de crônicas e suplementos literários de jornais. Escreve porque esta é sua forma de dar vida aos seus silêncios.
Amo ler Lourença Lou, ou simplesmente, Lou!
Um refresco bom na alma!