por Jean Narciso Bispo Moura
Falar de livro de poesia é uma tarefa ao meu ver demasiadamente arriscada, a probabilidade de ser pego pelo calcanhar e lançado sem domínio da própria compleição física em um campo de desnorteio e porosidade é muito grande.
Ao ler Orfeu assumo o risco de fratura, por entender que talvez não consiga reter em plenitude a cartilagem de sua poética, pois ele faz a travessia num corpo-palavra atado ao pensamento-associativo, transitando pelo lusco-fusco da linguagem.
Na leitura de “Nervura” não se vê palavra gasta, corroída pela frugalidade de combinação e uso. Há um certo garbo na apropriação do verbo, no seu branco não habitam sujidades ou borrões, percebe-se em todo o livro um espírito renitente e combativo de quem vai até o último round ao encontro sempre da melhor palavra. Nessa obra o autor pratica o seu labor sem apressamento e vemos se descortinar a olho nu belas peças de linguagem.
Em “Nervura” o poeta se distingue pelo refinamento, bebe a palavra num cálice áureo e formoso. Ele tem um jeito próprio de sorver e transmitir a palavra, sentindo com rigorosidade no canto da boca e papilas, o gosto de cada verso.
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