Três poemas de Alexandre Guarnieri

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GRAVIDADE ZERO, Alexandre Guarnieri, 2017, Penalux Desenho: Joniel Santos

 

 

 

tudo o que se exige dele

– astronauta/ ou kamikaze –
é que entre na nave
e aceite a viagem
“ou quase”

“tudo ficará para trás”,
prometem os projetistas
da nova cápsula com mil
propulsores dos mais
eficazes

tudo o que se espera dele
– algo entre astrônomo/ e colono:
copérnico/ ptolomeu/ colombo –
é que embarque e “vaze”
( parta. viaje. )

 

 

space oddity

a terra está para o satélite
como a água para a atmosfera
tudo gravita – a vida – equi
libra-se ainda que se esquive
o cometa do meteoro | as rotas
de colisão explicitam certa par
cela de perigo e medo a que
todos os corpos celestes se
submetem entre o caos e a
calma, dicotômicos | o som não
propaga o ruído está extinto
quando se orbita no frio deste
vastíssimo tapete dito infi
nito | que ímpeto teria pro
longado tão largo o nada tão es
cassa a massa quando comparada
ao absoluto tubo nulo onde tu
do está indubitavelmente contido ?

 

 

mrs. major tom

seu último adeus entrevisto da escotilha
antes da contagem regressiva, houvesse
para ela um local definitivo, o destaque adequado
além da janela de um belíssimo quarto decorado,
ou desta câmara branca; no centro do drama,
cada piloto com sua própria dama, repudiada ou
merecida, megera ou santa, o melhor momento,
congelado fotograma, repousa no anacrônico
porta-retrato, entretanto um fato permanece
insuspeitado: enquanto sonha do leito criogênico,
divagando no idílio de uma visita fictícia
a um extravagante motel construído num acelerador
de partículas, há pelo menos vinte séculos terrenos,
sua mulher, e os filhos ( se os tivesse tido, ou
os que de fato teve num universo alternativo ),
seus bichos, da família os entes mais queridos,
toda a carne reconduzida ao pó, todos já morreram
na Terra há, pelo menos, algumas centenas de décadas!

 

 

 

 

Alexandre Guarnieri (carioca de 1974) é poeta e historiador da arte. Integra o corpo editorial da revista eletrônica Mallarmargens. Casa das Máquinas (Editora da Palavra, 2011) é seu livro de estreia e está disponível online [via ISSUU]. Seu segundo livro é Corpo de Festim [livro ganhador do 57o Jabuti/ 2a Edição pela Penalux]. Em 2016, co-organizou pela Patuá a antologia Escriptonita (poemas tematizando super-heróis). Seu terceiro livro é Gravidade Zero (Penalux, 2017).

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