por Jean Narciso Bispo Moura
O livro de poemas Gravidade, editora Patuá, 2017, de Ellen Maria é uma bela coleção de experiências entrelaçadas pelo vínculo geracional na perspectiva da filha, em relação a si mesma, a mãe e a avó, coadunando numa experiência intra que salta sensivelmente para os lócus da extrafamiliar.
É um livro que fala de todas as mulheres tendo aqui o modo de vida identificado em qualquer parte do planeta, do hemisfério sul ao hemisfério norte.
Há notadamente um tilintar antropológico da menina que avança até alçar o status pleno de mulher. No livro de Ellen, a menina cresce e enxerga pela lente de outras mulheres, que desde a tenra infância, são aconselhadas pelas mais experientes a compreender os óbices a serem enfrentados, e num fluxo contínuo busca pela constante resguarda da própria integridade física e mental. É uma espécie indelével de co e auto-proteção.
Os percalços postos na vida feminina têm como agentes propulsores a ação inoportuna da ferocidade masculina que objetifica e assedia o corpo fêmeo.
Ellen por intermédio de sua poética preenche o espírito de uma leveza que brota aflorada num texto, em sua maioria, curto, intuitivo, delicado, tocha que ilumina os escuros vãos do cotidiano.
A autora em tom catalisador revela nas suas páginas a experiência do mulherio vista de um particular observatório, percebe-se ao lê-la que o seu texto poético comunica liberto de toda e qualquer linguagem empolada.
Certamente a poeta fala duma horda de pensamento pré-acionado pelo conjunto social e convencionado no imaginário coletivo, editando em seus versos um modo elucidativo e preventivo que aponta a não refração à liberdade feminina.
Conclui-se que o corpo fêmeo, melindrado em objeto sexualizado pela mente doidivana, intenciona debaixo deste (céu) azul inventado, agir com ojeriza contra a incivilidade, instaurando deste modo uma moderna e segura gravidade para os seus pés.
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