Relato do escritor Eliezer Moreira sobre o seu romance Ensaio para um adeus, editor Patuá

 

A narrativa é sombria na sua base, quero dizer, na sua linha principal. E o fato de haver uma segunda linha, ou um segundo plano, com um narrador que conta a história a posteriori, acabou me servindo de recurso para acrescentar à história um pouco de claridade e até, em alguns momentos, de humor, no intuito de tentar torná-la menos sombria.
No geral, porém, como sugere o título da segunda parte (“Pequenas utopias”), esta é uma história sobre impasses e impossibilidades, sobre um não-lugar, ou seja lá que outro nome tenha esse tópos desconhecido e angustiante que todos conhecemos como a Morte. Para tentar falar disso “de dentro”, em vez de falar como mero observador, era preciso recorrer a um artifício, já utilizado outras vezes na literatura, ou seja, o tema do duplo (Dostoiévski, Stevenson), emprestando ao morto um sósia perfeito, de modo que este pudesse “experimentar”  em vida o que seria estar morto. Situação de todo impossível, é claro. Daí o que me pareceu a conclusão lógica, que era fazer o personagem percorrer os passos, repetir as ações do morto, e no final, em vez de se matar, ressurgir da morte como se fosse um ressuscitado. Nada mais utópico, pelo menos, na visão não religiosa do narrador.

 

Eliezer Moreira
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