Por Fernando Andrade
Escritor e crítico de literatura
O poeta desenhou em algum lugar a palavra úmero. Tava meio alcoolizado, olhou com o pincel na mão, e pensou ver números. Já meio alegrinho achou que tinha ganhado algumas cifras de direitos autorais. Desde que saiu do útero da mãe vinha batalhando para ser um poeta guerrilheiro da verve-verso. Imprimir batalhas frasais, ser um MC do logro no logradouro mais interessante da cidade: as ruas.
Pois penso num poeta que tire versos de uma seringa contaminada diversos deversos que maquinam como um bom maquinista a velha estrada da vida, já penso em Felline, ou Celline, marginais – vias de acesso ao mundo como ele é, e não sua representação bela-letrada nos uivos da universidade. Caminhei várias vezes na prosa-pedra, do poeta Gilcevi, em seu livro, Retrato do poeta quando devedor de aluguel, editora Letramento.
Tire a dor do seu caminho, talvez uma cena de uma letra, que este resenhador nem lembra mais. Como fazer cenas sem manchar a mão de petróleo. Como ver o rico piche (oi) pichação dos grafites que este poeta encadeia em séries no seu cronílaboratório cotidiano de esperas…
aqui indo de rasuras sociais, muito pixelçalizado pela paródia linguística mais bem-humorada e catártica.
Gilcevi usa língua movediça com suas entorces, suas gírias sacanas para entornar o caldo da realidade que de tão espessa endureceu num nó de lágrimas. Quando o poeta mexe na relação do idioma enquanto experiência social, é mais fácil fazer fraturas em que o corpo poético tem de mais político: seu gozo de não ter censo e censores.
COTAÇÃO: MUITO BOM
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