Rogério Viana Bernardes nasceu em São Gonçalo/RJ. Mora em Brasília e escreve poesia como quem precisa renascer todos os dias por meio das palavras. Cinzas de fazer Fênix é seu terceiro livro, após Olhar de andorinha (Scortecci, 2014) e Cantigas de ninar dragões (Penalux, 2017).
ENDOCOSMOS
Contou as horas
para não se sentir ausente
voltar ao casulo
onde o medo não lhe aflinge
ser de si mesmo
o único a se importar.
Chamaram solidão
o que ele chama ser livre
pensaram ser prisão
o que para ele é lar.
Seu universo é dentro.
PRIVILÉGIO
Não sinto na pele o suor a escorrer
não antes de a terra ser molhada
quanto mais corro, mais longe a morada
a vida se distrai e esquece quando morrer.
Enquanto eu estiver reto, perco o prumo
equilibro-me sobre mundanos espinhos
o sangue nos meus pés refaz caminhos
e assim meu desespero tem um rumo.
As letras que escolho são o sortilégio
desta vida dolorida, mas tão linda!
enquanto o suspiro da Fênix não finda
farei de minhas feridas um privilégio.
Só não se machuca quem não vive.
RASCUNHO
Nas intermitências
entre meus fantasmas
e os sonhos que ainda mantenho
jaz a paz a ser alcançada
seja pela morte ou pelo empenho.
É nos intervalos
entre o medo e as audácias
que a teimosia de viver
eu desenho.
Vivo a glória de ser rascunho
enquanto não me alinho.
Sou folha quase em branco
com ânsias de pergaminho.
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