“muito além do sinal que o além se finda” – 3 poemas de Majela Colares

 

 

APOCALIPSE NÃO

Hoje o sol não deu as caras
fez-se o dia cinza escuro…
eu ao som de línguas raras

clamei, sim, por meu futuro
– que rumava pro passado –
vi meu fim longe, imaturo

feito imagem, conspirado
convencida, minha mente
de que o sol tinha apagado

uma pane inconsequente
bem na hora do sol-posto
toda luz se fez ausente…

– nosso fim, enfim, imposto?
Mas de um sopro germinante
surge o sol rente ao meu rosto

 

 

PALAVRAS A UM FUTURO SOL

Vai, amigo vento, vai
e diz para o alumioso sol
(e propague por todo o universo possível)
que, apesar de tudo, a humanidade insiste…
no entanto, necessita
como nunca, de vozes e silêncio

– o infindo silêncio de lábios indignos

… que os seus intensos e sorridentes raios
inundem as anoitecidas entranhas humanas
assombreadas em escancarantes e omissas bocas
revele, ainda, amigo vento

ao alumioso e comovente sol
que, apesar de tudo, a humanidade insiste…
no entanto, necessita
como nunca, embriagar-se do néctar futuro
do sereno e futuro amanhã
que germina, cheio de graça, em seu alumiante ventre

vai, amigo vento, vai…

 

 

ALÉM DO ALÉM

E se tudo é mistério… além segredo
e bem pouco sabemos dos acasos
flutuando entre a luz, a sombra, o medo

habitantes do tempo, dos espaços
e pensarmos de forma persistente
qualquer hora fundirmos pontos, traços…

desvendando o segredo incongruente
no controle do senso e mais ainda
num cálculo cingir o inconsequente

se sonharmos burlar a força infinda
é preciso saber que o fim começa
muito além do sinal que o além se finda

 

MAJELA COLARES, poeta e contista, nasceu em Limoeiro do Norte, Ceará, em julho de 1964. Está radicado em Recife desde 1992. Publicou os seguintes livros: Poesia: Confissão de Dívida, 1993; Outono de Pedra, 1994; O Soldador de Palavras, 1997; A Linha Extrema, 1999; Confissão de Dívida e Outros Poemas, 2001; O Silêncio no Aquário/Die Stille im Aquárium, 2004, edição bilíngüe português-alemão, trad. Curt Meyer-Clason; Quadrante Lunar, 2005; As Cores do Tempo, 2007, 2ª Ed. 2009; Memória Líquida, 2012; Margeando o Caos/Vorejant el Caos, 2013, edição bilíngüe português-catalão, trad. Joan Navarro e O Retorno de Bennu, 2018. Contos: O Fantasma de Samoa, 2005. Tem participação em antologias, revistas, jornais, sites, blogs, publicados no Brasil e no exterior.

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This Article Has 2 Comments
  1. Cirlene Reply

    São de fato poesias raras, de uma rica sensibilidade e nuances de um suspiro profundo que cala a alma.

  2. Daniel Viana Reply

    Todo poeta será bem-vindo.

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