Fernando Andrade ( escritor e crítico de Literatura)
Ao corpo é dado ao oráculo da erotização. Sua sebe é a porta dos dedos ágeis que percorrem com sede e fome noites e dias do hábito. Não há vestimenta maior que o desejo por um corpo que contorna certos pontos cardeais. Mas se olho o corpo o vejo fixo (indesmoronado).
Mas há uma certa continuidade no prazer de olhar no além físico invólucro de orgãos, bílis e elásticos músculos. Algo (in)táctil que não inteira emoções pois sabemos que para os olhos é necessário a beleza do torno, da ligeireza da pele, da maciez das nádegas. Será que só o pensamento detecta as relações carnais do entorno invisível e pergaminho palimpsesto natural onde ocorrem os balés de correnteza de ar, onde incide os raios de sol numa manhã estrepitosa. A erotização começa bem antes quando nos beleléus do céu a primeira madeixa de luz sorrateiramente inicia o dia colocando a noite esta rainha dos elixires luxuriantes para dormir.
Bem ali já começa a troca de carícias entre a brisa da manhã com a copa das árvores numa cópula benfazeja. E o humano sente o odor do néctar do pólen das abelhas indo e vindo de colmeia à colmeia a come-las com boa dose de gula afrodisíaca. Esta fina camada de pertencimento nos enreda no laço à fio à poeta Mariayne Nana no seu introspectivo belo Pétala soletrada pelo vento ( editora Urutau). Com uma delicadeza es-fio- çante ( aqui jaz uma palavra que deixei ao sabor do vento – esmiuçante), ela contorce a linguagem em espirituosos alumbramentos onde o sentido esparge conotações milágrimas de afeto e cuidado com o pouso das coisas aladas ou não pelo contato do cerne humano.
Há uma animalidade erótica em suas permanências na pausa e pouso terrestre. Tudo conecta em libido e anima nas relações dialógicas entre natureza e seres, aqui não há pernoite para gêneros. A poeta com traço delicado retraça uma humanidade perdida entre o animado e o inanimado, aquele falso movido por espírito, mas que traz uma flama temperatura sexual, como uma poeira envolta em turbilhões de vento.
Porque ela dignifica o profano por antes passá-lo pelo sagrado.
cotação: ótimo
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