“tua presença é cello em andante movimento” – Três poemas de Flavia Quintanilha

 

… e eu

eu que queria viver de poesia
nasci com os olhos arregalados
como radar que percebe o intruso

sou isso
dor distorcida em poema
em sobrevoo livre
e mantida a ferros

barro invisível
odiado ao secar na roupa
fonte da vida

almejava ser o que nasci pra ser
poesia
nisso que me transformo
disso que me valho

sobre-viver

 

 

ciranda

maçã com água gelada
era esse o sabor de sua lembrança
o cloro que lhe ardia os olhos
averdelhados de dias de sol
e aqueles
pés sinceros em rocha aquecida
convidava mundo

 

 

***

saí pela noite à sua procura
goles viscosos de uma sufocante juventude
embalou minha fuga em uma dança fria

tua presença é cello em andante movimento
revela em mim o sorriso de quem te vê

saio a todo momento à sua procura
esqueço bocas
fios de mim em coxas inóspitas

sou poema para seus olhos ler
sou o tempo silente em espera

 

 

Flavia Quintanilha é poeta, nascida em Maringá-PR. Atualmente finaliza seu doutorado em Filosofia pela Universidade de Coimbra. Membro colaborador do Instituto de Estudos Filosóficos da Universidade de Coimbra, pesquisa na área de Filosofia Prática e Ética com ênfase na Racionalidade Hermenêutica e Metapoesia. Em 2015 publicou o livro Aporias da Justiça: entre Habermas e Rawls, pela Novas Edições Acadêmicas e em 2018 o livro de poesia A mulher que contou a minha história, pela Kotter Editorial – selo Sendas.

https://kotter.com.br/loja/a-mulher-que-contou-a-minha-historia/

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