PARUSIA OU MÁQUINA DO IMUNDO
Como eu palmilhasse a Transamazônica
de barro e o Rio Doce se tornasse salgado
da terra de Minas e a energia recôndita
estrondasse em soluços dos parentes pasmos
sobre o silêncio dos defuntos sem conta
sob o dilúvio limpos e ainda mais calados
contassem a sujeira ou gritassem uns contra
os outros privados e estatais culpados
e se engarrafassem na plúmbea estrada
(não águas poluídas aos sem-teto à venda)
caminhões ilegais num passe de mágica,
a máquina da mídia pra fazer sua média
se abriu em merda da graça ou paga
como se um segundo advento da tragédia.
NEM GÓLGOTA
Depois do Dilúvio no fim sem mar de Minas,
forçoso com fogo pra Luzia a lembrança
de Lúcifer, surdo arde sem nem samba
o coração do vosso Brasil que de brisa
se bem quer mal foda-se com flores de brasa,
pois o meu é somente Sanhauá mais que China,
mas como dói, Rio que choro de mentira
qual vós que pagais, e tal não apagam;
pois não é apenas a tevê na parede
em pé pai das antigas com suor negro e sangue
rubro e vice-reino versa range dentes,
nem barro o mangue, cruzes, telhas chão jazem,
no meio da sala só a pedra muda prende
sem perdão: Itabira: por que me abandonaste?
QUOD NIHIL SCITUR
Inato no homem é o seu desejo
de saber, porém é dado a poucos
a ciência; e que nada se sabe a todos,
eu nem sequer sei que nada sei, sendo
que ainda conjeturo: nem eu nem os outros,
pois não pode existir o saber perfeito,
e examinar em si mesmos os objetos
pra conhecê-los é o único modo;
pensar é duvidar, na república ciência
e no tribunal verdade ninguém julga
nem impera senão a verdade mesma,
a autoridade manda crer na cura,
a razão demonstra as coisas, a primeira
é apta pra fé, pra ciência a segunda
Joedson Adriano da Silva Santos, Sanhauá-Paraíba, 1983, publicou os livros Ode aos Deuses (2009), Ode aos Homens (2010), Evangelho de Diógenes (2013), Elegias do País do Sanhauá(2017) e Alcides(2018), membro do Clube do Conto da Paraíba, pelo qual participou da antologia Contos de Sábado (2012).
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