ALFORRIA
Quanto
mais escrevo
menos me escravo.
TRANSITORIEDADE
Você fecha a persiana,
a gaveta dos organizados talheres,
guarda o último copo,
esvazia a lixeira,
passa o peito da mão no lençol amarrotado
estendido na cama,
vira a almofada do sofá que de costas estava,
remexe na vela do castiçal porque ereto precisa estar,
sopra a poeira do cristal,
arruma com o pé direito o tapete da porta de entrada,
passa os olhos em tudo pela última vez e fecha a porta.
Tudo o que você quer é voltar
e encontrar tudo em ordem, tudo como deixou.
Impossível, claro.
Você pode, inclusive, nem mais voltar.
O SORRISO DA TRISTEZA
Sorriu para o padeiro
ao saber que o pão havia acabado,
e passou a mão na cabeça de uma criança abandonada.
Sob chuva,
parou para escutar um pedinte,
cumprimentou o porteiro noturno que cochilava,
e sussurrou um Deus qualquer no ouvido da alma
Ela não é disso.
É que estava muito triste,
e tristeza faz isso com a gente.
Leonardo Cattoni
Nasci na cidade de Curitiba, PR, em 1980. Atualmente moro em Belo Horizonte, MG. Sou tradutor, professor de inglês e “fazedor de bicos”. Escrever me é um remédio. Tenho muitos contos, minicontos e poemas engavetados que logo logo serão libertados por um livro. Recentemente fui publicado por uma revista literária digital.
Lindos poemas!!
Profundo, de uma sensibilidade ímpar! Te amo demais!
Leonardo Cattoni, gostei muito. Você escreve muito bem. Seus poemas são simples e dizem muito. Eu tb gosto muito do seu olhar, sempre querendo dizer algo e não dizendo. Essa sua foto hipnotiza qualquer um. =)