“uma vontade louca de abraçar o impossível” – Três poemas de Helena Figueiredo

 

 

FLASH

Escrevo nas pedras, um postulado redentor.
Indiferentes
as árvores
pintam as folhas de um sabor vermelho
os pássaros
equilibram seus ninhos no vento
e é tão clara a sapiência deste chão
que me apetece rasgar as utopias
e seguir paralelo ao fervor dos insetos.

 

 

IMPULSO

Nem sempre o que apraz dizer
é inverso ao desejo de o fazer
bom seria que o espinho, continuasse na rosa
do sangue, soubéssemos apenas a cor
e dos vendavais, a notícia dos jornais.
De todas as sensações, qual a melhor, não sei
no copo cheio, o líquido derrama ao simples toque
a sede não existe, dá o mote
e o que era tão conciso, soa a efémero
e treme o coração
uma vontade louca de abraçar o impossível
afasta o medo
e deixamos a certeza do rochedo
para seguir nas asas de um falcão.

 

 

A HORA

Hoje, que o ócio me possui
abro o caderno
sou um espinho
uma lâmina afiada
um pulso decepado
e nada impedirá que a tinta jorre
e se derrame livre
entre as linhas claras.
E não sou eu que dito…

Sobre mim desceu
um raio fulminante
a hora prenhe
e as palavras ardem
em tons prata
golfadas, que de outro modo
seriam sangue apenas
bombardeado por eternos movimentos
sem que dele conhecêssemos a cor.

O poema é assim
este ato tresloucado
acontecendo
ao tocar de um sino
num simples beijo
ou quando um nó cego
nos esgana a garganta.

 

 

 

Helena Figueiredo, (1959, Viseu, Portugal) é licenciada em Educação de Infância. Editou textos e poemas no site – revista TRIPLOV e na revista brasileira online MALLARMARGENS. Até agora  não se encontra editada em livro. Contacto:
helena_lopes_m@hotmail.com

 

 

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