Por Fernando Andrade
Jornalista e crítico literário
Jogar, traçar uma rota desigual em seus trilhos, ou até mesmo sair dos trilhos, levitar, deixar palavras sem ar, jogá-las ao acaso do descaso da seriedade mais serial. Pensar a poesia com requintes de crueldade, pesando ela pelo seu lado jocoso e lúdico onde não há mais tempo para usar um verbo espacial, que tudo transborde de suas marcas e posições. Que não temas as posições; que reprima as marcas fixas: as que se movem pelo tabuleiro da página mantendo o sentido transbordante.
Assim como os poemas de alguém que não tenha definição concreta quanto uma acepção de dicionário. Que ao escrevê-los eles mantenham a calma da disponibilidade de conteúdo. Como poemas que eu não não escrevi e esqueci. Que eles estudem a forma da língua que nem um Tatit, recursando seriedades de zomba, vendo pela lente & ótica, o avesso das palavras, onde é o buraco do tatu? ops! O buraco semântico do letrista que desengonça feito onça brava as oscilações significantes da palavra cantada ritmada.
Pois quero me ater ao que a poeta Thamires Andrade, enovela com missangas cirandeiras, em seu novo livro de poemas, Meus melhores poemas eu não escrevi e esqueci, editora Patuá, algo muito próprio dela, enquanto melodiosa poética, não é que adoça os sentidos, mas o fazem bricoláveis em seus múltiplos ingredientes.
A poeta verseja pelo caminho da desconstrução formal do que tenha que ser poema fixo. Seu trabalho não está na forma est(a)ética do que o poema postule em sua mancha tipográfica. Ela interioriza outras coisas, séries dentro do poema. Faz ressignificações de sentidos, através de deslocamentos físicos entre ações e coisas.
Coloca o inusitado da fixidez crônica do tal cotidiano para bailar ou dançar reconfigurando as trocas de lugares e sintaxes de posições que as palavras podem operar. Querer dizer que sua métrica não obedece ao redondilhos de uma forma sisuda, é saltitar sob fogo aceso, você nunca vai tá com as solas totalmente aderentes. A poeta parece que desnaturaliza a seriedade da poética, fazendo-a de brincante, botando nariz de cera que por sinal derrete nas piores temperaturas. Tatit vem nos lembrar que o jogo poético não precisa de formalismos com a língua. Basta saber fazer o jogo da forca com as palavras, tirá-las do buraco da sua ausência, ou da lógica do sentido.
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